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Autarquias compram milhares de testes sem eficácia para detetar vírus do Covid-19

Há autarquias a adquirir testes serológicos, que apenas avaliam a quantidade de anticorpos existentes e que, segundo especialistas, não detetam a presença do novo coronavírus noticia hoje na sua edição o JN.

 

Muitas câmaras municipais têm vindo a anunciar a compra, a laboratórios privados, de testes de despistagem à Covid-19, que estão a ser utilizados em lares de idosos, bombeiros e forças policiais, entre outros grupos da população. No entanto, parte desses testes, segundo especialistas ouvidos pelo JN, não servem para despiste da doença, pois não detetam a presença do vírus, mas apenas de anticorpos. São, por isso, ineficazes nesta fase da pandemia, segundo os especialistas. O apelo aos autarcas para não adquirirem esse tipo de testes já foi feito, até pelo próprio primeiro-ministro, mas não foi ouvido.

 
 

“Numa reunião que tivemos, com os presidentes das comunidades intermunicipais da Região Centro, uma das coisas que o primeiro-ministro mais nos pediu foi para não comprar esses testes serológicos [ao sangue], porque nesta fase não servem de nada”, revelou, ao JN, Ribau Esteves, presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro.

Foram feitos 500 testes serológicos pela Câmara de Cascais, mas para testar a imunidade de uma amostra da população

 
 
Microscopic view of Coronavirus, a pathogen that attacks the respiratory tract. Analysis and test, experimentation. Sars. 3d render

“Os testes RT-PCR [de zaragatoa] são os que detetam a presença do vírus nas vias aéreas superiores. Os serológicos detetam anticorpos, que podem demorar cinco a sete dias a ser desenvolvidos. Nos PCR, nesse período, já acusa positivo”, explicou Filipe Froes, pneumologista e coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos para a Covid-19. “Percebo a bondade das câmaras em ser parte da solução, mas não optaram por uma solução útil. Esses testes são ineficazes nesta fase, até porque dão uma falsa sensação de segurança. Sê-lo-ão, depois, para testar a imunidade”, adianta.

A diretora-geral da Saúde já anunciou que Portugal “vai fazer testes serológicos, para saber qual a proporção da população que adquiriu imunidade a este vírus”. “Entre a data da infeção e a data em que o nosso corpo começa a produzir anticorpos há um tempo a esperar”, frisa Graça Freitas.

 

Não há testes rápidos

Germano de Sousa, responsável por um dos maiores laboratórios de análises do país, também corrobora a ineficácia dos chamados “testes rápidos”. “Não há testes rápidos para a Covid-19. Os testes serológicos não podem ser utilizados como diagnóstico. Mesmo que deem positivo, têm que ser confirmados com os testes RT-PCR, que demoram, no mínimo, 24 horas para termos os resultados.

 

Enquanto um teste serológico pode custar entre 20 e 40 euros, dependendo do tipo, um RT-PCR ronda os cem euros e há escassez no país de material (zaragatoas e reagentes) para os fazer. Isso pode ter sido um fator determinante na escolha de algumas autarquias.

Belmonte, Mealhada e Vieira do Minho foram algumas das câmaras que adquiriram testes serológicos. “Não sei se são eficazes ou não, mas se há incapacidade do país em fazer os testes [RT-PCR], estou a assumir a minha responsabilidade e a fazer o melhor pela população”, sustenta António Rocha, presidente da Câmara de Belmonte. “Pelo menos, dão-nos uma ideia da situação”, alega António Cardoso, edil de Vieira do Minho.

 

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