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7 Maravilhas de Portugal2020 Cultura Popular Montalegre com dois trunfos a concurso

O tema do concurso 7 Maravilhas de Portugal2020 é a Cultura Popular. Dentro do tema, as categorias a concurso são: artesanato, lendas e mitos, festas e feiras, músicas e danças, rituais e costumes, procissões e romarias, e artefacto
O Município de Montalegre apresenta dois trunfos no concurso 7 Maravilhas da Cultura Popular, “Sexta 13 – Noite das Bruxas” e a Ponte da Misarela.
Segundo o Município de Montalegre esta é uma “oportunidade, sob vários ângulos, que promete reforçar a visibilidade de um território exuberante na beleza paisagística, portentoso no património cultural e turístico e sedutor em riqueza gastronómica.”

 
Montalegre 7 Maravilhas

PONTE DA MISARELA – SIDRÓS (Lendas e Mitos)
A Ponte da Misarela ou “Ponte do Diabo” situa-se em Sidrós, na freguesia de Ferral, concelho de Montalegre. Esta construção erigida sobre o Rio Rabagão é berço de duas das mais inusitadas lendas de Portugal. Crê-se que foi construída pelo próprio Diabo.
Em tempos remotos um fdalgo duriense (ou seria um criminoso terrível?) fugia desalmadamente aos seus perseguidores. Acossado pela captura iminente, o homem aventurou-se para os lados do Rabagão que, nessa altura, corria tempestuoso. Na impossibilidade de passar a corrente pediu em vão a intervenção divina. Lembrou-se então de invocar o poder do Diabo prometendo-lhe, caso o auxiliasse na fuga, a sua alma. Nesse momento surge-lhe o Diabo que aquiesce ao seu pedido estendendo à sua frente uma ponte. Assim fugiu o homem, que nesta região viveu muitos anos.

 
 

Às portas da morte, com a alma prestes a ser entregue ao Diabo, o homem revela o seu pacto a um padre, que o absolve
de todos os pecados. Movido pela fé, o padre desloca-se, disfarçado de lavrador e a coberto da noite, ao local onde o Diabo havia estendido a ponte. Aí invoca Satanás prometendo-lhe a alma em troca da passagem. A ponte surge como por magia à sua frente e o padre ao atravessá-la benze-a com água benta, molhada num raminho de urze (ou será alecrim?) ao mesmo tempo que recita um exorcismo. O vulto negro de Satanás, encoberto por uma espessa nuvem de enxofre desaparece como por encanto, deixando no ar um forte cheiro a pez e incenso mas… a ponte fica de pé, firme e bela, ligando as duas margens.


A Ponte da Misarela conserva um ritual, hoje praticamente extinto, que consagra o monumento como um lugar mítico, sagrado e mágico na cultura popular. As mulheres grávidas, com medo de abortar, acompanhadas pelo marido e outros familiares dispõem-se a pernoitar na ponte. Devem esperar que não passe nenhum animal depois do pôr-do-sol e aguardar pela primeira pessoa que aí passar que, por sua vez, será convidada a apadrinhar a futura criança. Ninguém recusou jamais o pedido, que é considerado um dever moral. O batismo é realizado na mesma hora: de uma corda comprida suspende- se um púcaro de barro negro, baixado à profundidade do abismo que recolhe a água para a cerimónia.

 
 

A futura mãe recebe no ventre a água do Rabagão e o padrinho recita a oração «Eu te baptizo, criatura de Deus, pelo poder de Deus e da Virgem Maria, se fores rapaz serás Gervaz, se fores rapariga, serás Senhorinha». Atualmente ainda existem Gervásios e Senhorinhas em toda a região, que constituem a prova viva dos seus rituais.
O município de Montalegre – a par com o município de Vieira do Minho e em conjunto com as associações locais – tem vindo a potenciar turística e culturalmente a Ponte da Misarela, nomeadamente através da marcação de percursos pedestres, realização de provas de trail, celebração do Entrudo e a realização anual da Festa da Ponte da Misarela, onde são recriados os elementos lendários, fantásticos e históricos que fazem desta ponte e a sua envolvente um local verdadeiramente mágico.

“SEXTA 13” – NOITE DAS BRUXAS – MONTALEGRE (Festas e Feiras)

 


Poucas festas em Portugal conseguem, de modo tão afrmativo e unânime, associar a cultura popular aos desafos da contemporaneidade. A “Sexta 13” – Noite das Bruxas, em Montalegre constitui, provavelmente, o mais disseminado exemplo da reinvenção das tradições populares de Trás-os-Montes.
A sua essência reside nos serões tradicionais de Barroso, espaço onde o fadeiro de contos e estórias do arco da velha preenchiam as longas noites de invernia. Contos e lendas, magia e superstição, trocadilhos e lengalengas eram partilhados com os mais novos, resultando num processo de transmissão da sabedoria e cultura popular de Barroso, hoje em processo de recuperação. Parte desta tradição oral, sobretudo ligada à superstição e ao fantástico, foi recuperada pelo padre Fontes no início da década de 1980, por intermédio do Congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes e, posteriormente,
transposta para os restaurantes e espaços públicos de Montalegre dando origem à “Sexta 13” – Noite das Bruxas.

A longevidade da “Sexta 13”, associada à sua permanente reinvenção, preconiza a natureza agregadora e fraterna das grandes celebrações transmontanas. Elementos estruturantes do evento como a superstição, o misticismo, a festa como fenómeno de exaltação social e contexto de celebração pública mas, principalmente, um curioso sentimento de afrontação a todas as formas dogmáticas de olhar a vida, moldam a sua matriz identitária.

 


Assente na superstição ligada, por um lado ao número 13 onde, como refere o padre Fontes «Os dias 13 são de azar, assim como o número 13. Estando 13 pessoas à mesa, uma delas morre. É preciso pôr, nem que seja uma criança, ou sair um dos comensais” e, por outro, à sexta-feira em que “às terças e sextas nem urdas a teia, nem cases a flha», o evento eleva a cultura Galaico-Barrosã ao patamar de grande festa popular. A relação com a Galiza é umbilical, plasmada na récita do esconjuro, poema/feitiço com raízes do outro lado da “fronteira viva”, onde o misticismo e a superstição desempenham papel
semelhante no imaginário coletivo.


O magnífico espectáculo de teatro, que conquista por uma noite o Castelo de Montalegre e o centro histórico de Montalegre, é realizado tendo por base contos e lendas ancestrais de Barroso e da Galiza e protagonizado por companhias teatrais de ambos os lados da raia. A economia local e regional são fortemente envolvidas. A hotelaria da região – desde Braga a Chaves – esgota para o evento. Na restauração, a gastronomia tradicional de Barroso revela-se aos visitantes: o fumeiro de Montalegre,
o cozido barrosão e a cozinha temática são um dos pontos altos da “Sexta 13” – Noite das Bruxas. A qualidade e o alcance mediático da festa valeram-lhe alguns prémios: Prémio Revelação do Ano, em 2009, e Melhor Evento Público, em 2010 e 2012. Em 2019, a “Sexta 13” foi certifcada como EcoEvento, pela Environment Global Facilities.

 

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