A relevância da informação contabilística
Artigo de opinião de Jaime Teixeira, docente na Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico do Porto.
A relevância da informação contabilística como suporte à gestão é um tema largamente comentado e até algo consensual, contudo diversas vezes me tenho questionado sobre a origem deste consenso e qual a informação contabilística que efetivamente merece esse título.
Começo por fazer uma declaração de interesses, enquanto Contabilista Certificado em contacto permanente com o tecido empresarial, considero que a informação produzida pela contabilidade é um elemento essencial no processo de tomada de decisão, contudo discordo na forma e no conteúdo com que a mesma é disponibilizada aos gestores.
A apresentação de Balanços e Demonstrações dos Resultados e seus anexos, numa linguagem impercetível para maioria dos gestores, não contribui de todo para potenciar a relevância da contabilidade na gestão. Prova disso é o facto de uma parte substancial dos gestores não entenderem as demonstrações financeiras assinadas por si próprios ano após ano.
A contabilidade tal como a conhecemos e a registamos nos dias de hoje apenas nos fornece dados históricos, com um desfasamento significativo face à realidade do dia a dia. Utilizar unicamente a informação contabilística como instrumento de gestão será o equivalente a consumirmos os melhores ingredientes da alta cozinha no seu estado bruto sem qualquer tempero. A informação disponibilizada pela contabilidade é a mais fidedigna que a empresa pode obter, contudo os números necessitam ser processados e apresentados de forma adequada e oportuna face aos elementos exigíveis para tomar decisões operacionais e estratégicas.
Tudo o resto é uma amalgama de informação demasiado técnica e rígida que nenhum gestor despenderá tempo a analisar. Um “simples” conjunto de dashboards estruturados e apresentados em tempo oportuno, representa para o gestor um suporte mais eficaz e pertinente quando comparado com as dezenas de páginas e mapas da prestação de contas. Numa altura em que se discute à exaustão a revolução digital e o desaparecimento das funções do contabilista, anseio pela massificação da inteligência artificial, automatizando os diversos registos contabilísticos e as obrigações declarativas, deixando ao contabilista espaço para de facto assumir um papel de relevo e de verdadeiro suporte à gestão.
Deixemos de lado os receios de nos desprendermos do débito e do crédito quando temos pela frente a análise económica e financeira, a otimização fiscal das empresas, os indicadores de performance, os diferentes mapas previsionais, o balanced scorecard entre tantas outras ferramentas de gestão de elevado valor acrescentado.
Estou seguro de que caminhamos para a unificação dos diferentes ramos da contabilidade, e embora saudosamente falaremos do débito e do crédito, e até das obrigações fiscais e legais que atualmente nos deturpam a visão, para passarmos a lecionar aos futuros contabilistas estas memória nas disciplinas da História da Contabilidade.