Juros do crédito à habitação vão subir
As taxas Euribor, atualmente em mínimos históricos, deverão sair de valores negativos. Portugueses são dos mais vulneráveis à subida dos juros.
É um alívio para quem tem crédito à habitação e uma dor de cabeça para quem quer tirar rendimento de depósitos. O ciclo de quedas das Euribor, todavia, está prestes a chegar ao fim. No próximo ano, a maior parte destas taxas, que servem de referência para o valor da prestação do crédito à habitação e dos depósitos, deverão deixar de ter valores negativos. “As Euribor deverão iniciar ciclos de subida entre o atual e o próximo trimestres”, referem os economistas do Montepio numa análise a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso.
A Euribor a seis meses, a mais utilizada nos créditos à habitação em Portugal, está atualmente ao mínimo histórico de -0,278%. Mas este indexante deverá subir para -0,16% no final do ano, segundo as taxas implícitas no mercado e nas estimativas do Montepio. O indexante a seis meses, que está em valores negativos desde novembro de 2015, deverá regressar a níveis positivos já no segundo trimestre do próximo ano.
Na taxa a 12 meses, a que tem sido mais utilizada nos novos créditos, os juros acima de 0% devem chegar ainda este ano. Tanto as taxas implícitas no mercado como as estimativas do Montepio apontam para um valor de 0,02% no final de 2018. Atualmente está em -0,191%. Já o indexante a três meses apenas deverá regressar a valores positivos no último trimestre de 2019.
Estes mínimos das Euribor permitiram, em termos médios, cortar para metade a taxa de juro implícita no mercado à habitação nos últimos cinco anos. Em 2017, foi de 1,02%, segundo dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE); em 2012 tinha sido de 2,19%.
Mas já não aparenta existir mais margem para alívios nos orçamentos de quem tem créditos a taxa variável. À medida que o Banco Central Europeu for indicando o fim dos estímulos, o mercado vai começar a incorporar nas Euribor o início da subida das taxas definidas pela instituição liderada por Mario Draghi. Após o fim do programa alargado de compra de ativos, que deverá terminar este ano, o próximo passo do Banco Central Europeu será começar, de forma gradual, a subir o preço do dinheiro.
Os economistas do Montepio preveem que “a primeira subida ocorra no segundo trimestre de 2019, de 0% para 0,25%”. E antecipam que até 2027 a taxa de referência do Banco Central Europeu suba até 3%, arrastando subidas da Euribor.
A instituição liderada por Carlos Costa observou que o período das Euribor negativas contribuiu “para uma redução significativa do esforço com o serviço da dívida, a qual tem sido parcialmente convertida em consumo”. Mas mostrou alguma apreensão sobre a resistência financeira dos portugueses em fazerem face a subidas das taxas de juro. “A capacidade de ajustamento a choques não antecipados das famílias endividadas poderá ser substancialmente comprometida num quadro de retorno, ainda que gradual, à normalidade da política monetária.”
O Banco de Portugal relembra que metade dos orçamentos de famílias endividadas com rendimentos baixos vai para o serviço de dívida. E conclui: “Estas famílias estarão numa situação especialmente vulnerável” quando as taxas de juro começarem a aumentar.