Agostinho Marques, é o director do serviço de Pneumologia do CHSJ há 24 anos
Agostinho Marques, é o director do serviço de Pneumologia do Centro Hospital de S.João há 24 anos, este vieirense , nasceu a 30 de junho 1949, onde fez o ensino secundário. Doutorou-se em 1987, pela FMUP. Quis ser jesuíta, mas a sua família não apoiou a ideia, tendo-o incentivado a seguir Medicina. A opção pela Pneumologia, que aconteceu em 1978, foi um pouco por acaso.
“Na formação dos especialistas, temos tido o cuidado de fazê-los passar sempre por centros estrangeiros”, afirma Agostinho Marques, que assumiu a direção do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar de São João (CHSJ) há 24 anos. Na sua opinião, “esta é a forma de um país pequeno ter a garantia de que se está a par do que se passa no mundo”.
Em entrevista à Just News, publicada no Jornal Médico de dezembro, Agostinho Marques salienta que muitos médicos são doutorados pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), em áreas específicas da Pneumologia:
“Formamos especialistas e qualificamos os próprios médicos. Um serviço de referência como este, de fim de linha, tem de ter capacidade de resposta para as questões mais difíceis”, salienta o professor catedrático da FMUP.
O Serviço dá ainda apoio contínuo à Urgência e às diversas unidades de Cuidados Intensivos do hospital. A sua atividade tem sido orientada não só para a vertente assistencial, mas também para o ensino e a investigação.
“Lecionamos a disciplina de Pneumologia do curso de Medicina a estudantes do 4.º ano na FMUP. Além disso, recebemos, em média, dois internos da especialidade”, conta, esclarecendo que, desde que é diretor do Serviço, já terão sido formados cerca de 50 especialistas.
Agostinho Marques realça que, ao longo destes anos, teve oportunidade de observar a renovação dos elementos da equipa e o aumento da sua qualificação.
A equipa médica é hoje composta por 17 especialistas e doze internos (normalmente entram dois por ano no Internato da Especialidade). O Serviço recebe também jovens médicos de outros hospitais para estágios em áreas específicas (Medicina Interna, Alergologia e Medicina Geral e Familiar, entre outras).
A atividade acontece na Consulta Externa, que inclui as consultas de Pneumologia e Oncologia, no Internamento, no Gabinete de Broncologia, no setor de Técnicas de Intervenção, no Laboratório de Fisiopatologia, Sono e Ventilação Não Invasiva e no setor de Reabilitação Respiratória.
Agostinho Marques realça a “evolução técnica enorme” ocorrida no Serviço ao longo dos anos, acompanhada pela diferenciação dos elementos da equipa.
Cancro do pulmão e apneia do sono são responsáveis pelo maior número de consultas
Por ano, são realizadas mais de 28 mil consultas, sendo que o maior número se regista nas áreas do cancro do pulmão e da patologia do sono. Agostinho Marques indica que há também um volume considerável de consultas de asma e de DPOC, entre outras doenças respiratórias.
“Há uns 15-20 anos, a apneia de sono não era uma patologia identificada e, por isso, os doentes não acorriam às consultas, dado que não havia como tratar. A certa altura, o número de consultas aumentou exponencialmente. Neste momento, há mais de mil doentes à espera de consulta”, refere, realçando que no país esta doença é “líder nos atrasos de consulta, porque é impossível atender o número de doentes que há com os recursos existentes nos serviços”.
Quanto ao cancro do pulmão, o pneumologista relata que, anualmente, o Serviço tem, em média, cerca de 230 novos casos, “um número que se tem mantido estável nos últimos anos”.
Hoje, os doentes com cancro do pulmão têm uma esperança de vida maior após o diagnóstico, o que significa que são seguidos durante um período mais longo. “Os doentes vivem 3-4 vezes mais tempo, o que representa 3-4 vezes mais doentes em carga”, relata, justificando o elevado volume de consultas nesta área.
A fibrose pulmonar idiopática, doença relativamente rara, também tem um peso importante, havendo na equipa um grupo de médicos muito diferenciados nesta área. O Serviço é, desde julho, um dos cinco centros de referência para a fibrose quística.
“Criar mecanismos de ligação entre os médicos hospitalares e dos CSP”
O Serviço tem procurado manter um contacto de grande proximidade com os médicos de família da Região do Porto. Contudo, na opinião de Agostinho Marques, no país, a relação entre os cuidados hospitalares e os cuidados de saúde primários é insuficiente.
“O Serviço Nacional de Saúde precisa de criar mecanismos de ligação entre os médicos hospitalares e dos CSP. A atitude é, muitas vezes, cada um fechar-se na sua expressão”, aponta.
Agostinho Marques considera que “o facto de hoje, através dos sistemas informáticos, podermos ter acesso aos dados das unidades de CSP sobre os doentes e os médicos de família conseguirem aceder à informação hospitalar foi uma enorme melhoria”.
“Continuar a desenvolver um trabalho com a qualidade máxima”
Para o futuro, Agostinho Marques pretende “continuar a desenvolver um trabalho com a qualidade máxima”. A maior preocupação prende-se com as listas de espera, sobretudo da apneia do sono, e com o equipamento, uma vez que tem havido um desinvestimento por parte das autoridades.
“A endoscopia e a fibroscopia são as áreas mais prementes, porque os aparelhos são de grande desgaste e custo e são ‘vitais’ para a atividade”, conta.
Outra das grandes preocupações, até por se tratar de um Serviço universitário, é que o trabalho que ali é desenvolvido “produza ciência publicada em revistas internacionais”.
Por outro lado, quer continuar a doutorar pessoas. “Doutorar significa transformar médicos em investigadores e, nesse sentido, adquirirem o gosto pela ciência e pelo rigor, que depois mantêm ao longo da vida. Precisamos de ter uma Medicina de nível científico alto”, salienta.
“Vivo em perfeito equilíbrio”
É professor catedrático desde 1996 e diretor do Programa Doutoral de Medicina da FMUP. Foi diretor desta instituição de 2007 a 2014 e dirige o Serviço de Pneumologia do CHSJ há 24 anos, tendo presidido à Sociedade Portuguesa de Pneumologia e ao Colégio da Especialidade de Pneumologia da Ordem dos Médicos.
Agostinho Marques exerce Medicina durante a semana, mas o fim de semana é reservado à agricultura na casa que mantém em Vieira do Minho. De acordo com o médico, essa é a sua “válvula”. “Não sou um homem de stress. Nunca me senti cansado. Vivo em perfeito equilíbrio…”