Altice, Universidade do Minho e fundação FCCN vão tratar dados do supertelescópio SKA
O volume de dados gerado pelas observações do SKA vai ser duas a três vezes maior do que o produzido pelo Google ou pelo Facebook. E 2% a 3% serão tratados anualmente em Portugal, o equivalente aos gerados pelos aceleradores de partículas do CERN (Organização Europeia de Pesquisa Nuclear) em Genebra
O Centro de Computação Avançada da Universidade do Minho, o Data Center da Altice na Covilhã e a rede da Fundação para o Cálculo Científico Nacional (FCCN), vão tratar uma parte do gigantesco volume de dados gerados pelas observações do futuro supertelescópio internacional SKA, que começa a ser construído em 2020 na África do Sul e na Austrália.
Quando estiver concluído, o SKA vai ter 2000 antenas parabólicas gigantes apontadas para o céu na África do Sul e um milhão de antenas dipolo (para captar ondas de rádio de baixa frequência) na Austrália Ocidental. Será um radiotelescópio organizado em rede, com uma superfície total de um quilómetro quadrado. Por isso foi batizado com o nome de Square Kilometer Array.
E é considerado a maior infraestrutura científica mundial do século XXI. “O volume de dados que vão gerar anualmente as suas observações será cerca de duas a três vezes maior do que o volume de dados do Google ou do Facebook”, explica ao Expresso Domingos Barbosa, coordenador do consórcio português que participa no projeto do SKA, liderado pelo Instituto de Telecomunicações (IT).
PORTUGAL VAI TRATAR VOLUME DE DADOS IGUAL AO DO CERN
“No âmbito da sua participação no SKA, Portugal será responsável pelo tratamento anual de 2% a 3% desses dados”, acrescenta o investigador. Parece pouco mas não é, porque equivale ao volume de dados gerado pelos gigantescos aceleradores de partículas do CERN (Organização Europeia de Pesquisa Nuclear) em Genebra, na Suíça. Mas ainda é cedo para saber quanto vale no mercado a prestação deste serviço de tratamento de dados.
O supercomputador da Universidade do Minho, destinado à análise de dados científicos e ao desenvolvimento de novas aplicações, vai ser instalado durante o primeiro trimestre deste ano, e foi cedido à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (a principal agência nacional de apoio à investigação) pelo Centro de Computação Avançada da Universidade do Texas em Austin, instituição que desenvolve um programa de cooperação com Portugal. A infraestrutura da Universidade do Minho tem ainda uma parceria com o Centro de Supercomputação de Barcelona.
O Data Center da Altice na Covilhã é considerado um dos dez maiores centros de processamento de dados do mundo. O primeiro edifício foi inaugurado em 2013, mas o futuro tratamento de um grande volume de dados do SKA vai certamente expandir as suas atividades. Quanto à FCCN, é uma unidade da Fundação para a Ciência e a Tecnologia que gere uma rede de investigação digital, com comunicações avançadas de alto desempenho, transversal a todas as áreas do conhecimento e cobrindo todo o território nacional.
DESVENDAR OS SEGREDOS DO UNIVERSO
Concebido para desvendar os grandes mistérios do Universo, o SKA vai permitir grandes avanços na astrofísica (como evoluem as galáxias, como se formaram as primeiras estrelas), na física (o que é a energia escura, a natureza da gravidade, a origem dos campos magnéticos no espaço) e na astrobiologia (procura de vida extraterrestre). E vai promover desenvolvimentos tecnológicos em áreas de impacto social, como a distribuição e o processamento de grande volume de dados de alta velocidade e o recurso à geração, armazenamento e distribuição de energias renováveis.
“Portugal participa no SKA através da infraestrutura de investigação ENGAGE SKA, colaborando ao nível da ciência, inovação e indústria”, afirma Domingos Barbosa. O ENGAGE SKA é constituído pelo Instituto de Telecomunicações, a Universidade de Aveiro, a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, a Universidade de Évora, o Instituto Politécnico de Beja, um consórcio de empresas industriais e o Polo de Tecnologias de Informação, Comunicação e Eletrónica (TICE).
Hoje, quarta-feira, está a decorrer em Lisboa, na Fundação Pedro IV, uma conferência para a apresentação e debate do projeto, com a participação, entre outros, do ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, do presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), Paulo Ferrão, e vários dirigentes internacionais do SKA. Ontem, terça-feira, decorreu um evento semelhante na Câmara Municipal da Covilhã.