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Aluno da UMinho distinguido pela Academia Portuguesa da História

Luís Gonçalves Ferreira, estudante de doutoramento da Universidade do Minho, venceu o Prémio Lusitania História, da Academia Portuguesa da História, por um estudo que mostra como a roupa doada pelas misericórdias reconhecia as diferenças entre os pobres nos séculos XVII e XVIII. O galardão, que reconhece uma obra de investigação sobre a História de Portugal publicada no último ano, vai ser entregue a 9 de dezembro, às 15h00, em Lisboa, com transmissão online. Luís Gonçalves Ferreira concorreu com a sua dissertação de mestrado em História pela UMinho, “Vestidos de caridade: assistência, pobreza e indumentária na Idade Moderna”, editada em livro pela Misericórdia de Braga e pela Húmus.

 
Luís Gonçalves

“Estou feliz e ainda a ‘processar’ este prémio tão importante, que é um incentivo emocional e de carreira. Prova que estou a arriscar na direção certa, que valeu a pena tanto trabalho e que é possível publicar livros com investigação de qualidade e a respeitar os ‘tempos’ da História”, afirma o autor. O seu estudo é duplamente inovador, ao abordar a indumentária dos pobres (em vez das habituais elites) e a prática de esmola aos pobres, provando que as Santas Casas da Misericórdia acentuaram a identificação de subescalas de pobres, percetíveis pelo tipo de roupa, sapatos, objetos domésticos, alimentos, guarida, valores, salários e emprego que lhes doavam. Por exemplo, notava-se que viúvas, órfãos e padres vestiam-se melhor do que mendigos e delinquentes, os quais apresentavam roupa esfarrapada. Aliás, até o tipo de mortalha doado no funeral “comunicava” a situação do pobre.

 
 

Luís Gonçalves Ferreira centrou o seu mestrado no caso de Braga, mas encontrou muitos indícios de um cenário idêntico pelo reino, nomeadamente em cidades como Lisboa e Porto, que está a aprofundar na sua tese doutoral. Aliás, as Santas Casas estavam sob alçada do rei e também presentes nas colónias, sendo “agentes ativos na categorização da aparência dos pobres” em vários continentes na Idade Moderna. “A esmola era um ato político, não era dar por dar, avaliava-se o pobre numa escala social e situando-o pela roupa, numa espécie de cultura da consideração e das expectativas que a instituição tinha”, justifica o investigador. As Santas Casas contribuíram para muitas pessoas sobreviverem e terem dignidade.

Por outro lado, “dar esmola significava fazer o bem a Deus e a prática misericordiosa de ‘vestir os nus’ (pobres) era assim uma bolsa de crédito para aliviar a agonia da alma no purgatório”. Nos arquivos ao dispor, o historiador analisou também tipologias, materiais e cores dos objetos esmolados, o impacto destes na despesa da instituição e a construção da imagem e aparência social, explorando os fenómenos de moda, de ritualização, de civilidade e de privatização, mas também das narrativas históricas com os pobres à mercê dos ricos e sem margens de atuação.

 
 

Nota biográfica

Luís Gonçalves Ferreira nasceu há 30 anos em Vila Verde e vive em Braga. É licenciado, mestre e doutorando em História pela UMinho, além de investigador do Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT) e membro do grupo História Social a Norte. Venceu três Bolsas de Mérito pela Direção-Geral do Ensino Superior, três Bolsas de Excelência pela UMinho e o Prémio Eng. Duarte do Amaral pela Sociedade Martins Sarmento. A sua tese doutoral, “Pobres, doentes e esfarrapados? Indumentária de pobres no contexto da assistência urbana do Porto e Lisboa (séculos XVII e XVIII)”, tem apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Já publicou 15 artigos científicos sobre a História social e cultural, com foco no vestuário, na pobreza, no género e nas instituições assistencialistas, sendo ainda autor de vários blogues.

 

A Academia Portuguesa da História é uma instituição de utilidade pública fundada em 1938 que reúne especialistas dedicados à reconstituição documental e crítica do passado, materializada na organização de eventos e publicações, nomeadamente de fontes e obras com rigor científico que facilitem aos portugueses o conhecimento da sua História. Esta Academia distingue, com o apoio de mecenas, o mérito de obras historiográficas publicadas a cada ano.

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