Cabo-verdiana pinta e dá nova vida e cor às garrafas de vidro usadas
A partir de um cantinho da varanda, as garrafas de vidro usadas ganham nova vida e cor nas mãos da cabo-verdiana Jacira Francês, que começou a arte de pintura durante o confinamento e agora não quer mais parar.
Natural da ilha de São Vicente, Jacira Francês vive há cinco anos na cidade da Praia. Sempre teve um “gostinho” pela arte, tendo feito uma formação, mas em panos, ainda na sua ilha natal.
E nunca pensou enveredar pela pintura de garrafas de vidro usadas, uma arte que sobressaiu durante os meses de confinamento em Cabo Verde por causa da pandemia da covid-19.
“Naquela curiosidade de pesquisar no Youtube, comecei a ver algumas artes, primeiramente feitas de corda, para fazer suporte para vasos de plantas. Depois comecei a ver vídeos das garrafas e comecei a fazer”, descreveu a jovem artista à agência Lusa.
Nos primeiros dias, Jacira recordou que pintou apenas uma garrafa para oferecer a um amigo, que a incentivou a ser mais ambiciosa e continuar a arte, mas como um negócio, embora reconheça que naquela altura era “um desastre” a espalhar o spray nos utensílios.
“Mas com o tempo, agora sinto-me totalmente à vontade nessa arte”, garantiu Jacira Francês, que se considera uma autodidata na tarefa de dar nova vida e cor a esses recipientes.
“É apenas prática. Às vezes erro e é aí que vou tentando corrigir. E cada vez mais vou tendo mais ideias de como pintar as garrafas em diferentes modelos”, disse a jovem artista, que faz os trabalhos sobretudo por encomenda, para não ficarem amontoados em casa.
“É uma experiência que nunca imaginei. Agora vejo as garrafas com outros olhos”, salientou, referindo que hoje muita gente já lhe oferece esses resíduos, sugerindo desenhos e escritos personalizados, nesta reciclagem para decoração da casa, do escritório ou da empresa.
“E já é uma peça de arte que tens em casa”, considerou, sublinhando que nem tudo foi mau no período de confinamento no país, sobretudo nos meses de abril, maio e junho, em que a sua vida ficou “totalmente diferente” para melhor e já ganha algum dinheiro com a sua arte.
Logótipos de empresas, clubes de futebol, nomes, datas e ocasiões especiais, como batizados e casamentos, são alguns dos temas sugeridos até agora para garrafas personalizadas, que inicialmente eram pedidas sobretudo por mulheres, mas já encantam também os homens.
Neste momento, as encomendas são maioritariamente das garrafas pintadas com as cores dos clubes de futebol, com destaque para Benfica, Porto e Sporting, todos de Portugal, mas há outros temas, que servem de opção de presente de Natal.
O processo é todo ele artesanal e começa com a colocação das garrafas em água quente, para retirar a cola e o logótipo. Depois são lavadas, deixadas a secar para mais tarde serem pintadas, descreveu a artista.
O trabalho é praticamente todo feito num cantinho na varanda de casa, e sobretudo na parte de manhã e sem grandes condições, porque à tarde o sol reflete com muita intensidade na “oficina” improvisada com vista para parte do bairro do Palmarejo.
Por isso, Jacira Francês traça como objetivo ter um espaço onde, além de pintar as garrafas usadas, possa fazer exposições desses e de outros trabalhos artísticos.
“Além desses temas, no futuro quero fazer sobre as ilhas e história de Cabo Verde. Algo que chama mais a atenção aos turistas”, perspetivou a artista, que também quer fazer uma formação de arte em pintura em vidro, para aprender mais e fazer um trabalho cada vez mais profissional.
Se no início um dos meios de divulgação era a própria página pessoal na rede social Facebook, a jovem artista criou recentemente outra página, denominada Artes Criativas da Jacira Francês, em que expõe os seus trabalhos e recebe comentários dos clientes.
Quanto aos preços, disse que variam entre 600 escudos (5,4 euros), para as garrafas apenas pintadas e enfeitadas com areia, brilhantes ou arroz, e 700 escudos (6,3 euros), para as personalizadas com nomes, alguma declaração ou dedicatória.
Já o conjunto dos clubes, com uma garrafa e duas taças com os respetivos emblemas, é vendido a 1.300 escudos (11,7 euros).
Lusa