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Covid-19: “Calma” dos hospitais do Norte é “aparente e enganadora”

A Ordem dos Enfermeiros (OE) Norte afirmou hoje que a “calma” que a região “aparenta” é “enganadora” no que se refere à pressão com internamentos covid-19 e exigiu medidas, considerando “inacreditável” pensar no estrangeiro como alternativa.

 
Covid-19

“Os hospitais já não têm capacidade de resposta. O Norte parece mais calmo, mas é uma calma muito aparente e enganadora. A verdade é que os hospitais do Norte estão no limite das capacidades. Não há o aparato de ambulâncias à porta, mas dentro de portas as coisas estão complicadas e já não conseguem absorver muitos mais doentes”, disse o presidente da OE/Norte, João Paulo Carvalho.

 
 

Em declarações à agência Lusa, o responsável falou em abertura de alas covid-19 em vários hospitais, nos quais são colocadas equipas “sem prática corrente para doentes críticos” e com “formação pouco adequada, como está a acontecer no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, entre outros.

“O hospital de Gaia está a chegar ao limite e abre enfermarias de um dia para o outro. A Unidade Local de Saúde do Alto Minho [Viana do Castelo] já veio assumir que está em situação crítica. O Hospital de São João e o Santo António [ambos do Porto] também têm problemas”, resumiu.

 
 

Para João Paulo Carvalho “falar em enviar doentes para o estrangeiro é algo inacreditável”.

“Dito na televisão parece simples, parece que se envia doentes para o estrangeiro como se fosse uma mercadoria qualquer a meter no avião”, mas “grande parte dos países europeus também enfrentam limitações”, alertou.

 

O responsável vincou que “não é simples fazer transferência de doentes críticos entre dois hospitais relativamente próximos, quanto mais estrangeiro”.

“Neste momento não pode ser solução. Ontem [terça-feira] conseguiram meter 19 doentes num hospital privado com uma equipa do Amadora/Sintra, portanto há instalações. Sem esgotar a capacidade instalada nos privados e social, não faz sentido pensar no estrangeiro. Chamem-lhe requisição, chamem-lhe protocolo, o que quiserem. O que sabemos é que os doentes não têm culpa de limitações ideológicas de alguém”, referiu.

 

Na terceira semana consecutiva em que Portugal atinge novos máximos de mortes e novas infeções pelo novo coronavírus, o presidente da OE/Norte mostrou-se “muito preocupado”.

“Faz-nos pensar que mais do que planeamento e boa gestão, temos tido sorte. Não podemos deixar que a sorte seja a líder na gestão da pandemia. Nunca tivemos as três grandes regiões em grande pressão ao mesmo tempo”, referiu.

 

Critico de várias medidas da tutela, João Paulo Carvalho apontou que “já se chegou a um ponto em que é preciso resolver o problema na comunidade” e não poupou nos apelos.

“O principal apelo que temos de fazer é um apelo à população para que perceba claramente a gravidade do que estamos a passar. Neste momento, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está a colapsar e a colapsar muito rapidamente. Era evitável e previsível, mas alguém quis viver no mundo da ilusão. E isto está-se a pagar em vidas (…). Protejam-se! Têm de se manter confinadas”, frisou, aproveitando para exigir à tutela que esclareça os portugueses sobre o uso das máscaras.

“Tal como em outros países, façam um estudo sério acerca do grau de segurança que as máscaras comunitárias conferem. As novas variantes, seja a inglesa, a brasileira ou a da África do Sul, são mais virulentas e contagiosas”, acrescentou.

O dirigente recordou que “há países [europeus] que já estão a não aconselhar ou a proibir mesmo o uso de máscaras comunitárias”, mas também alertou que “a alternativa serão as máscaras cirúrgicas com grau de eficácia”, pois “as FFP2 são poucas e têm de ser deixadas para os profissionais de saúde”.

João Paulo Carvalho afirmou que, no que se refere a recursos humanos, o Governo está a fazer “uma gestão de necessidade em cima do joelho” e que é será “muito difícil” recrutar no estrangeiro quando se oferecem “contratos de quatro meses com 900 euros líquidos”.

Sobre a vacinação, João Paulo Carvalho considerou que a questão do poder político poder ser vacinado como grupo prioritários “está a causar ruído”, admitindo que existam alguns cargos – “como o Presidente da República, o primeiro-ministro e ministros na linha da frente” – que façam sentido.

“Neste momento há milhares e milhares de profissionais de saúde não estão vacinados. Temos milhares de profissionais das Forças Armadas e das forças de segurança que não estão vacinados. Idosos, doentes de risco. Na terça-feira, quem fez o transporte de doentes do Amadora/Sintra para outros hospitais? Não foram os políticos. Foram os bombeiros e os técnicos de emergência do INEM”, concluiu.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.159.155 mortos resultantes de mais de 100 milhões de casos de infeção em todo o mundo, enquanto em Portugal morreram 11.305 pessoas dos 668.951 casos de infeção confirmados.

Lusa

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