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D. Jorge Ortiga escreve “Carta aos Católicos de Braga”

Hoje, Solenidade de São Martinho de Dume, o Arcebispo Primaz publicou a “Carta aos Católicos de Braga”, um documento que surge no âmbito da caminhada sinodal.

 
Jorge Ortiga

“Ao entrarmos na caminhada sinodal, pareceu-me que poderia ter interesse partilhar algumas ideias sem intenções previamente estabelecidas. Não pretendo fazer um exame de consciência sobre o caminho percorrido pela Arquidiocese de Braga nos últimos anos, nem muito menos lançar-me em questões que possam estabelecer um processo pastoral para o futuro. Para ouvir o que o Espírito quer dizer à Igreja neste momento histórico, senti que era importante elencar um conjunto de ideias, já assumidas pela teologia, e que poderão acompanhar a reflexão a fazer a diversos níveis”, começa por explicar.

 
 

O Arcebispo lembra que o Sínodo “terá que ser uma aventura” de “partilha reflectida” e espera que os seus “apontamentos” possam ajudar quem vive o Sínodo sobre a Sinodalidade.

“Se algumas destas ideias gerarem intuições que ajudem a compreender o ser e o fazer da Igreja como Sinodalidade vivida na Comunhão, Participação e Missão, darei graças a Deus e retribuirei a todos quantos me foram ajudando a entender melhor a Igreja do Concílio Vaticano II”, explica.

 
 

D. Jorge Ortiga refere “dois momentos cruciais e marcantes na história recente da Igreja Universal e Diocesana” para explicar a Arquidiocese de Braga tal como existe hoje: o Concílio Vaticano II (1962-1965) e o Sínodo Bracarense (1994-1997).

“Gostaria que soubésseis o empenho laical que este Sínodo implicou. A lenta, mas profunda, escuta dos leigos de toda a Arquidiocese de Braga, permitiu pensar uma Igreja não apenas a partir dos intelectuais em pastoral, mas também a partir da vivência concreta dos fiéis”, recorda.

 

A partir destas duas experiências, o prelado adianta cinco “tendências” que a Arquidiocese tentou cultivar ao longo destes últimos 22 anos, começando por referir-se a “uma Igreja menos clerical e mais laical”.

“Fomos construindo uma Igreja que não caísse no erro de, em nome dos leigos, dispensasse os seus presbíteros, ou que em nome dos presbíteros ofuscasse o papel dos leigos, mas uma Igreja que potencia os dons e carismas destas duas formas sacerdotais: sacerdócio comum e ministerial”, afirma.

 

O modelo seguinte é o de “uma Igreja menos territorial e mais comunidade”, que não fosse concebida como “uma sociedade fechada, mas como uma autêntica comunidade”, na qual “a mulher assumirá progressivamente um papel mais central e decisivo na vida da Igreja”.

“Acredito que no nosso tempo e no futuro, concretizar-se-ão cada vez mais novas formas de organizar a Igreja local, compreendendo a paróquia além da sua dimensão territorial, tal como as Unidades Paroquiais e um Colégio de Paróquias com as novas paróquias em função do seu exercício pastoral (escolas, hospitais, emigrantes…). Uma Igreja em que haverá uma maior aproximação da diocese às paróquias, e das paróquias à diocese, num trabalho com a diocese e não à margem da diocese”, explica. 

 

D. Jorge Ortiga fala também de “uma Igreja menos pastoral e mais espiritual”, com a necessidade de recuperação da espiritualidade “de base”.

“Acredito que no nosso tempo e no futuro se recuperará mais a centralidade da Eucaristia: uma nova vivência deste sacramento, recuperando a espiritualidade eucarística nas suas diversas formas da piedade popular. Porque podemos dar o que temos, só levando Jesus bem enraizado dentro de nós O poderemos comunicar aos outros”, adianta.

O Arcebispo refere ainda uma “Igreja menos burocrática e mais caritativa”, já que a burocracia, apesar de necessária, é um elemento “secundário”.

“Acredito que, no nosso tempo e no futuro, a caridade, nas suas múltiplas formas, será o maior código de barras no meio da trama humana. A necessária relação entre a fé e as obras, em que ambas se implicam mutuamente (Mt 25, 31-46; Tg 2,14-26), permitirá que, por causa da acção, o nosso discurso (teológico) ganhe espaço e autoridade no meio de tantos discursos sociais: pois a fé (interior) orienta o sentido das obras (exterior), e as obras atestam a autenticidade da fé”, explica.

Por fim, o prelado aponta “uma Igreja menos focada na imposição e mais na convicção”, naquele que será provavelmente o maior desafio da Igreja milenar de Braga: aceitar uma nova forma de cristianismo, onde o cristão o é por convicção e não por tradição.

“Ao longo destes anos, fomos tomando consciência que a Igreja deverá saber interpretar um novo princípio da evangelização: mais do que impor a nossa fé à sociedade, queremos contagiar a sociedade com a nossa fé. Daí que no, nosso tempo e no futuro, acredito que ter-se-á obrigatoriamente de dialogar e incorporar os novos destinatários da evangelização: os não-crentes e os crentes de outras profissões religiosas, exigindo-nos uma grande capacidade ecuménica, inter-religiosa e cultural”, afirma.

O Arcebispo Primaz termina a carta com a sugestão da criação de um novo verbo, “unidar”, a partir de um substantivo que lhe é “muito caro”: unidade.

“Porque a unidade nem significa “unir” (simples juntar de elementos diversos), nem “unificar” (pegar em elementos diferentes para se construir uma única forma), mas é precisamente um aproximar de elementos diversos entre si e a procura de um elemento comum que os una sem renunciar à sua identidade particular. Em suma, “unidar” é mais que a simples união ou conformidade: é um congregar as diferenças para se construir a comunhão. A comunhã procede da unidade, e não o contrário”, conclui, pedindo aos católicos que partam da “da unidade para experimentar unidade entre todos, para que o mundo possa ver o amor Uno e Trino de Deus”.

Clique aqui para fazer o download da Carta. A versão impressa estará disponível a partir da próxima semana nos Serviços Centrais da Arquidiocese de Braga.

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