Dia de S. Martinho de Tours e Dia Mundial dos Pobres
D. Jorge Ortiga pede, na mensagem que escreveu a propósito da memória de S. Martinho de Tours e do Dia Mundial dos Pobres – celebrado no domingo, dia 15 – que se reaprendam “os caminhos de uma caridade operosa e dinâmica” para que as comunidades tenham um papel “determinante na erradicação da pobreza”.
A mensagem está disponível no site da Arquidiocese e abaixo
“O Santo Padre instituiu o Dia Mundial dos Pobres, em 2017, colocando-o no XXXIII Domingo do Tempo Comum, ou seja, no penúltimo Domingo do ano litúrgico. Este ano será no dia 15 de Novembro e terá como lema “Estende a tua mão ao pobre” (Sir 7, 32).
São imensos os estudos sociológicos sobre a pobreza. Existem muitas estatísticas encaradas em diferentes perspectivas. A comunicação social fala, frequentemente, da pobreza de proximidade e daquela além mar. Não faltam, por isso, elucidações. Ninguém ignora que a pobreza existe e que tem muitos rostos: alguns são evidentes e outros têm formas envergonhadas ou escondida por detrás de situações que poderão ser desprestigiantes.
O Papa quis, por isso, assinalar um dia no calendário da Igreja para pensarmos nos pobres. Pode parecer a mesma coisa. Creio que não. A pobreza pode ser um discurso teórico, distante, que não envolve. O pobre é uma realidade com rosto e com necessidades concretas. Está patente aos olhos de todos e os seus gritos, muitas vezes silenciosos, devem ser escutados.
A proposta de estender a mão ao pobre deverá significar um compromisso efectivo. Há quem passe fome, quem viva em condições indignas, quem não usufrua de um trabalho digno e familiar, quem não consiga satisfazer as necessidade essenciais. Isto não acontece em países longínquos. Está ao nosso lado.
A Arquidiocese de Braga aceitou o compromisso de ser uma Igreja Samaritana. Teoricamente, todos entendemos o significado desta palavra. Urge aceitar as interpelações que nos lança, começando por colocar em prática o que nos é sugerido no Programa Pastoral. Ver e ter compaixão. “Onde há amor há um olhar”. Olhamos e vemos com compaixão. Nem sempre é fácil ver. Temos outras prioridades e preocupações. Passa-se à frente e pensa-se que haverá sempre alguém que resolva. E, entretanto, os outros vão sofrendo, abandonados à sua sorte. A globalização da indiferença deve ser substituída pelo encontro com os carentes através de respostas rápidas e concretas.
Sou um apaixonado pela vida da Igreja nos primeiros tempos. As comunidades eram pequenas mas inclusivas. Viviam uma comunhão espiritual que se concretizava na solicitude material a quem necessitasse. Cada comunidade tinha consciência dos seus pobres, todos estavam inseridos na comunhão e a solicitude partia da consciência de terem um só coração e uma só alma. A consequência é que entre eles não havia pobres pois cada um tinha tudo quanto lhe era necessário.
Teremos de reaprender os caminhos de uma caridade operosa e dinâmica, de tal modo que as nossas comunidades, através dos cristãos e das estruturas para o efeito, manifestem o rosto amoroso de Deus. Estaremos a fazer o que devemos? Não estaremos a adormecer neste cuidado pelos pobres? Os pobres diminuirão se cada cristão mostrar sensibilidade e compaixão através de gestos concretos de solidariedade. Também as comunidades paroquiais têm um papel determinante na erradicação da pobreza. Um mínimo de estrutura é necessário. Organizemo-nos e mostremos que só o amor nos diferencia.
A última encíclica do Papa Francisco vem trazer-nos a verdadeira motivação. Cuidar dos pobres como exigência natural da fraternidade, que a todos une na mesma aventura humana. Nesta certeza descobrimos um irmão em todos, mas de um modo mais evidente nos pobres e nos que sofrem. Através de pequenos gestos, que uma caridade sensível e próxima sugere, estamos a colocar em prática um novo humanismo, que nos garante a construção de uma Humanidade nova, regida por critérios de igualdade e de justiça para todos.
Neste Dia Mundial dos Pobres, a partir da caridade que viveremos durante este ano, deixo este apelo a todos os cristãos e às comunidades. Peço, também, aos sacerdotes que não deixem de falar deste problema, assim como solicito aos movimentos uma reflexão séria sobre esta problemática. O exemplo do Bom Samaritano encontra a sua expressão neste aproximar-se de todos os pobres, para assumir as suas carências e necessidades. Juntos sejamos um contributo positivo para uma sociedade sem diferenciações sociais porque alicerçada na fraternidade que a todos une.
† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz“