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“Falar(es) bracarense(s)” Livro reúne termos orais que sobrevivem ao tempo

O professor José Sousa Teixeira, da Universidade do Minho, lança amanhã um livro com expressões orais de Braga que resistem ao tempo, procurando explicar o seu contexto nas antigas formas de viver.

 
jose teixeira

Por exemplo, “trenga” para ingénua, “embuchado” para amuado, “bolir” para mexer, “forrinhos” para sótão ou “gandula” para marota. Há até significados fora dos dicionários, como “carolinas” (chinelos de pau com tiras de couro) para representar pessoas pobres e “cascavelha” (castanha atrofiada) para franzina ou sem valor.

 
 

O livro “Falar(es) bracarense(s), janelas da transformação de um espaço rural” vai ser lançado às 15h30, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga. A edição da Húmus, apoiada pelo Centro de Estudos Lusíadas (CEL) da UMinho e pelo Município de Braga, conta com a apresentação do eurodeputado José Manuel Fernandes.

“Dos anos 50/60 aos anos 90, Braga transformou-se completamente de um espaço rural para urbano e a oralidade é decisiva para entender essas mudanças, por isso importava registar as palavras, as expressões e o calão que persistem, para a memória não se perder”, justifica José Teixeira.

 
 

A obra deriva do projeto científico “Perfil Sociolinguístico da Fala Bracarense”, que foi coordenado por investigadores do Centro de Estudos Humanísticos da UMinho e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. José Teixeira recuperou 10 das 90 entrevistas feitas, procurando registar sobretudo transformações do espaço bracarense a nível sociológico e antropológico. “São janelas para conhecer modos de falar presentes na região e modos de vida ligados a uma ruralidade que se perde”, frisa.

“Carolinas e cascavelha exemplificam como cultura e palavras estão ligadas”, nota o docente da Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas da UMinho. Face à tendência de uniformização linguística, a sobrevivência destas expressões espelha o papel fulcral que tiveram na realidade objetiva e nos seus usos simbólicos e metafóricos, continua o também diretor do CEL. “Se cada memória é um livro, ficam aqui vários livros vivos, fundamentais para compreender a nossa língua, os tempos evocados e a atual ‘Grande Braga’”, realça. Aliás, a obra permite constatar como um casal podia ter 13 ou mais filhos, coabitando estes por vezes com os avós, sendo a subsistência quase uma guerra diária para obter o pão e quase nada mais e o trabalho restringindo-se ao campo, tal como os antepassados.

 

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