Foi há 55 anos que mataram o General que ousou desafiar Salazar
Humberto Delgado, conhecido como o ‘General sem Medo’, morreu há 55 anos. Neste dia, em 1965, na localidade espanhola de Villanueva del Fresno, era assassinado a tiro, por uma brigada da PIDE, polícia política do regime de Oliveira Salazar. Tinha 58 anos. A sua secretária, Arajaryr Campos, foi igualmente assassinada, tendo sido os dois corpos encontrados no mesmo local.
Humberto Delgado foi um dos militares que apoiou o golpe de 1926 e que depressa ascendeu na hierarquia militar a general. A célebre frase “obviamente, demito-o” foi o que lhe atribuiu o título de o ‘General sem Medo’.
E porquê? Foi essa a sua resposta quando questionado, numa conferência de imprensa, sobre o futuro do Governo de Oliveira Salazar, caso fosse eleito nas eleições presidenciais de 1958. Nesse ano, Delgado reuniu todas as oposições ao Estado Novo e apresentou-se como candidato.
Apesar dos apoios e da intensa campanha, o ‘General sem Medo’ saiu derrotado das eleições que viria a acusar de terem sido fraudulentas. A sua missão de abalar e acabar com o regime de Salazar revelar-se-ia ineficaz, obrigando Delgado a exilar-se no Brasil depois das eleições.
Espancado até à morte ou morto a tiro?
Apesar de a tese da morte de Humberto Delgado ter sido a de que este foi assassinado a tiro, uma biografia da autoria do neto Frederico Delgado Rosa, lançado em 2008, refere que o ‘General sem Medo’ foi, afinal, espancado até à morte.
“A maneira como foi assassinado não fui eu que a inventei”, afirmou à Lusa por ocasião do lançamento do livro ‘Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo’. Frederico sustentou que a sua tese se baseia na autópsia feita pelas autoridades franquistas apontando “sucessivas contusões cranianas” como a causa da morte do general.
Segundo o autor, a ideia de que Delgado foi morto a tiro pela PIDE “foi uma mentira conveniente que permitiu ilibar muita gente”. Depois do 25 de Abril de 1974, a justiça portuguesa começou a trabalhar no caso sem ter acesso ao processo espanhol, apontou Frederico Delgado, doutorado em Etnologia e que se dedicou anos à investigação da carreira militar e política do avô.
“O processo criminal ficou viciado à partida e quando chegaram tardiamente elementos do processo espanhol já estava construído um dogma em relação ao “como” do crime”, disse ainda o investigador, acrescentando que para isso contribuíram depoimentos dos próprios elementos da PIDE que foram detidos.
IN: País ao minuto (2017)