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Investigadores da Universidade de Coimbra regressam do Iraque com novos achados arqueológicos inéditos

Uma equipa de investigação do Centro de Estudos em Arqueologia Artes e Ciências do Património (CEAACP) da Universidade de Coimbra (UC) regressou recentemente a Portugal, depois de mais uma missão no Curdistão Iraquiano, com dados inéditos sobre o início da Idade do Bronze na Mesopotâmia. A investigação vem acrescentar novas informações à história das primeiras comunidades que habitaram esta região há cinco mil anos.

 
créditos das fotografias: CEAACP

A campanha de escavações decorreu entre 24 de agosto e 27 de setembro, no âmbito do Projeto Arqueológico de Kani Shaie (KSAP), liderado pelo CEAACP, em colaboração com a Universidade de Cambridge. Foi dirigida pela docente da Faculdade de Letras da UC e investigadora do CEAACP, Maria da Conceição Lopes, pelo investigador do CEAACP, André Tomé, e pelo investigador da Universidade de Cambridge, Steve Renette.

 
 

“Sabemos agora que em Kani Shaie terá existido um grande edifício circular, do qual por agora só se conhece uma pequena parte. Ainda assim, é possível perceber que seria utilizado para o armazenamento de cereais e leguminosas, estando associado a várias estruturas de combustão, que sugerem também a preparação de alimentos”, revelam os investigadores.

Situado numa localização estratégica, no sopé dos Montes Zagros, Kani Shaie terá sido, ao longo de milénios, um importante ponto de passagem nas rotas que interligavam a planície Mesopotâmica e as terras altas, que, mais tarde, passaram a integrar a histórica Rota da Seda.

 
 
créditos das fotografias: CEAACP

A descoberta de impressões de selos repete-se nestas escavações, mas com algumas novidades: “foram descobertos dois selos cilíndricos, artefactos raros que funcionavam como carimbos para lacrar contentores cerâmicos e portas, através da passagem sobre uma superfície de argila ainda húmida”, partilham Maria da Conceição Lopes, André Tomé e Steve Renette.

“Um desses selos, com cinco mil anos, permite desafiar a visão tradicional sobre o final do quarto milénio a.C., sugerindo que, pelo menos nesta região da Mesopotâmia, as estruturas sociais e políticas que floresceram com a invenção da escrita se mantiveram, contrariando a teoria de um colapso civilizacional”, explicam.

 

Numa outra área de escavação, a equipa de investigação descobriu “um edifício complexo datado do período entre a queda do Império Neo-Assírio e a passagem de Alexandre, o Grande”, destacam.

Além de revelar todas estas informações inéditas, a missão abre já caminho para o futuro trabalho de campo em Kani Shaie: “a identificação de um selo Neo-Assírio em faiança (uma louça fina de barro esmaltado ou vidrado) nesta área aponta para a existência de estratos importantes por explorar, prometendo novas descobertas significativas na próxima campanha de escavações, já prevista para 2025”, partilham os coordenadores.

 

Também o trabalho em laboratório com os dados recolhidos vai permitir saber mais sobre as comunidades que habitaram a região e sobre a sua continuidade no território ao longo dos vários períodos de ocupação.

“Apesar do clima de instabilidade política e militar na região, a equipa pretende continuar a descobrir as histórias deste sítio e região que podem ajudar a compreender algumas das interrogações que colocamos quando pensamos na construção do mundo em que vivemos e das sociedades que o compõem”, avançam.

 

Esta missão do Projeto Arqueológico de Kani Shaie contou também com a participação de especialistas de várias universidades, bem como com a colaboração de arqueólogos curdos e das autoridades locais. Do lado da equipa portuguesa, participaram outros investigadores do Centro de Estudos em Arqueologia Artes e Ciências do Património da Universidade de Coimbra: Michael Lewis (codirector assistente), Tiago Costa, Anna Ligia Vitale e Humberto Veríssimo.

O projeto é maioritariamente financiado por fundos nacionais, através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

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