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Mapeamento da maior montanha submarina Portuguesa

Banco de Gorringe, Algarve, Portugal
Julho de 2024

 

Numa missão de 130 horas de operação do sistema sondador multifeixe (SMF) Kongsberg que equipa o NRP D. Carlos I (A522), navio hidrográfico e oceanográfico da Marinha Portuguesa sob comando do capitão-de-fragata Paulo Antunes Nunes, foram recolhidos os dados batimétricos que permitiram completar o mapeamento do Banco de Gorringe, a maior montanha submarinha Portuguesa a cerca de 240 km a oeste-sudoeste do Cabo de S. Vicente (Sagres, Algarve), com uma altitude sub-aquática na ordem dos 5 000 metros.

 
 
Mapeamento da maior montanha submarina

Numa evolução mais abrangente do programa de Mapeamento do Mar Português iniciado em 2017, as acções aqui desenvolvidas inserem-se no programa SEAMAP 2030 conduzido pelo Instituto Hidrográfico Português e tendo como parceiro a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC) – visando alcançar 100% de mapeamento em alta resolução dos espaços marítimos nacionais até 2030. Com cerca de 22 mil quilómetros quadrados de extensão, o Banco do Gorringe foi o primeiro espaço protegido marinho inserido no programa Natura 2000 da Zona Económica Exclusiva de Portugal.

Esta missão da Marinha Portuguesa veio completar o levantamento da metade sudoeste do banco e terminar assim o modelo integral deste banco, onde podemos observar, no plano mais próximo, o pico Gettysburg (36º31’N, 11º34’W) e, no plano mais afastado, o pico Ormonde (36º42’N, 11º09’W). A escala cromática denota a profundidade desde os 25 metros, a vermelho mais intenso no topo, até aos mais de 4 600 metros nas partes a azul e roxo mais escuro nas bases – sendo esta uma elevação submarina com mais de 5 000 metros desde o leito oceânico até ao seu topo, e correspondendo à maior montanha submarina Portuguesa.

 
 
Mapeamento da maior montanha submarina

O Banco de Gorringe foi originalmente referenciado pela primeira vez a 6 de Novembro de 1875 pela equipa do “U.S. Hydrographic Office” a operar a partir do USS “Gettysburg” da Marinha dos EUA (um vapor de 960 toneladas e 67 metros), com uma guarnição de 96 elementos liderada por Henry Honychurch Gorringe (cujo apelido baptiza o banco), tendo então sido localizados o pico de “Gettysburg”, a cerca de 20 metros (66 pés) da superfície e o pico de “Ormonde”, a cerca de 33 metros (108 pés). A acção inseria-se no programa de mapeamento do fundo oceânico conduzido pelo “United States Coast Survey” (USCS).

O NRP D. Carlos I está equipado, entre outros, com um sistema sondador multifeixe (SMF) de grandes fundos e com “Acoustic Doppler Current Profiler” (ADCP) de grandes fundos. O SMF Kongsberg Simrad EM 120 permite a realização de levantamentos em grandes fundos, operando na frequência dos 12 kHz, com uma resolução de 10 a 40 cm e a uma profundidade dos 20 aos 11 000 metros, emitindo pulsos com uma latência entre os 2,5 e os 15 milissegundos, com 191 feixes. É composto por um módulo de transmissão (Tx), com um peso de 1,3 toneladas (7,7 metros de comprimento e 70 cm de largura) e outro de recepção (Rx), com um peso de 700 kg (3,6 metros de comprimento e 40 cm de largura), instalados na secção inferior dianteira do casco do navio; e pela integração destes com os sistemas de amplificação, transmissão e estação de operação digital a bordo (HWS, “Hydrographic Work Station”) fazendo uso do “Seafloor Information System” (SIS) versão 4.

 

Construído nos EUA pela “Tacoma Boat Company” e lançado à água em 1989 como USNS “Audacious” (classe “Stalwart” | T-AGOS), o NRP D. Carlos I foi transferido para a Marinha Portuguesa em Dezembro de 1996. Deslocando 2 285 toneladas, com um comprimento de 68,3 metros, um boca de 13,1 metros e um calado máximo de 5,6 metros, sustenta uma velocidade máxima de 10 nós. Desenhado e contruído originalmente como navio de vigilância anti-submarina, foi customizado e preparado pelo Arsenal do Alfeite para as funções de navio hidrográfico e oceanográfico tendo posteriormente efectuado duas novas intervenções, entre 2001-04 e entre 2008-10. Junto com o navio “gémeo” NRP Almirante Gago Coutinho (A523), transferido para a Marinha Portuguesa a 30 de Setembro de 1999, constituem os dois navios da classe D. Carlos I. Com uma guarnição de 6 oficiais, 7 sargentos e 21 praças podem acomodar 15 técnicos, num efectivo total na ordem das 5 dezenas de elementos.

O Instituto Hidrográfico (IH) foi criado em 22 de Setembro de 1960 sendo dirigido actualmente, e desde 25 de Outubro de 2022, pelo Contra-almirante João Paulo Ramalho Marreiros na directa dependência do Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA).

 

Artigo publicado em parceria com “Espada & Escudo”

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