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Mas o cartão do adepto vai impedir os “criminoso, os xenófobos” de entrar nos estádios?

Neste fim de semana tive a felicidade de voltar a um estádio em Portugal, acompanhado com o meu filho e os seus amigos.

 

Um regresso há muto adiado, primeiro porque a desculpa da pandemia valia para muita coisa e depois porque os responsáveis governamentais em Portugal são gente que não sabe o que anda a fazer e anda a matar o desporto há muitos anos.

 
 

Um estádio com capacidade para 50.000 pessoas não pode durante um ano ter cerca de 1/5 da sua capacidade? Não, e porquê? Porque sim. Porque os que vão ao futebol são todos uns bandidos, como os que invadiram Alcochete.

A última peça feita por este governo é o cartão do adepto.

 
 

Para o leitor que não sabe o que é o cartão do adepto, este é um cartão que o Governo lança no sentido de “Controlar e promover as boas práticas de segurança e combater ao racismo, xenofobia e intolerância nos eventos desportivos” e “permite o registo e a identificação dos seus titulares para efeitos de dimensionamento e gestão do acesso” às bancadas dos adeptos da equipa que joga fora de casa” e servem de “auxílio à verificação, em tempo útil, das decisões judiciais e administrativas que impeçam determinadas pessoas de acederem aos recintos desportivos”. Este cartão vai ter um custo de 20€ porque em qualquer sítio pagamos 10€ pelo custo administrativo do cartão, mas neste estado de saque, o Governo encontrou mais uma forma de sacar uns pequenos cobres às pessoas.

foto de rematedigital.pt/

Analisemos agora do ponto de vista prático esta aberração.

 

Apontam os cérebros desta medida que com esta solução controlarão as pessoas que entram no estádio, manifestando finalmente a ideia de que quem vai a um estádio de futebol, só são os criminosos (a avaliar pelo número e tipo de governantes que venho em algumas tribunas presidenciais talvez até tenham razão) e que por isso precisam de ser controlados.

Pois, mas esta é a verificação da incompetência desta gente. Porque arranjou forma de controlar as pessoas que vão a um estádio por intermédio de um cartão, sendo certo que são capazes de transmitir que servem para verificar as decisões judiciais. Ou seja, passando a miúdos, o Estado assume que é incompetente a controlar as decisões judiciais e administrativas e por isso vai colocar uma “pulseira eletrónica” denominada cartão do adepto para tentar controlar os condenados. Só que, a pulseira eletrónica vai ser atribuída a todos aqueles que gostam de ir ao futebol, independentemente de decisões judiciais ou não.

 

Mas o cartão do adepto vai impedir que os “criminoso, os xenófobos”, os malcomportados que precisam de tau tau, de entrar nos estádios? Não. Apenas os vai impedir de entrar na bancada dedicada aos adeptos adversários dos da casa e apenas naquela bancada.

E pergunta o leitor? Mas poderão entrar em qualquer outra? Obviamente que sim, na certeza de que a perturbação pode ainda ser maior, mas os iluminados desta medida não pensaram nisto.

 

Vai é potenciar é que os grupos de adeptos (e obviamente os piores adeptos) se misturem com os restantes adeptos da casa, criando maiores riscos e maiores problemas às forças de segurança.

E esta é uma bela medida para proteger as famílias e os menores de 16 anos. Se eu quiser ir ao Estádio da Luz com os meus filhos, e eu sou Portista com um filho de 9 e uma filha de 13, não posso ir para junto dos adeptos do meu clube. Porquê? Porque o cartão do adepto é para maiores de 16 anos, ou seja, segundo estes governantes “só para possíveis cadastrados” pelo que ir ao futebol em família fora de casa será para nos misturamos com os adeptos do clube adversário, com o risco que isso acarreta.

Ou seja, depois desta explicação ainda ache que este cartão do adepto vem ajudar no combate ao racismo, xenofobia e intolerância??? Obviamente que não. Este cartão do adepto vem promover exatamente o contrário. E vem dar o sinal que o futebol não é para todos. É apenas para alguns.

Já para não falar que se alguém quiser ir ver um jogo de futebol que nada tenha a ver com o seu clube (como acontece cada vez mais com os turistas em qualquer país do mundo) e este quiser ficar na bancada do adversário, quer porque se identifica mais com esse clube, ou apenas porque lhe apetece sentir o que é estar na bancada do adversário num jogo fora, não o poderá fazer. Terá que pedir ao Estado Português autorização, para saber se é cadastrado.

Efetivamente o Big Brother chegou a toda a força, por quem acha que quem vai a eventos desportivos são todos uns arruaceiros. A promoção da família nos eventos desportivos teve mais um abalo. Nunca vi estes governantes de terceiro mundo preocupados com a forma como os adeptos são tratados à entrada dos estádios. Aí sim, tratados como gado, como se fossem todos criminosos, controlados por agentes de provocação de distúrbios.

E olhar para Inglaterra, onde os mesmos adeptos são controlados por policiais normais, que com subtileza e simpatia controlam o mesmo grupo de adeptos, sem estar a tentar provocar para dar umas bastonadas.

Assim aconteceu na deslocação a Liverpool e a Roma, por exemplo, onde acompanhei a minha equipa e, curiosamente, em Roma o bilhete era pessoal e intransmissível e necessário mostrar documento de identificação à entrada.

Só falta dizer que esta situação vai ser mais uma para provar que somos uma República das Bananas. Ou estarão a imaginar a UEFA a exigir aos adeptos adversários o cartão do adepto, para poderem estar ao lado dos seus compatriotas? Obviamente que não e mais uma vez vamos demonstrar ao mundo o “bananismo” nas nossas medidas e desta medíocre gente.

De uma coisa não estaremos safos…

Que os criminosos de colarinho branco e que tanto e tanto roubaram o estado português estejam a são e salvo com as suas famílias nos estádios. Estarão nos camarotes e nas tribunas com as suas famílias, a beneficiar das benesses que o cargo que ocupam ou ocuparam lhes permite, sem que tenham a necessidade do cartão do adepto.

Esta é que é a verdade. Mas lá continuamos, rumo à mediocridade que esta gente nos votou.

Até para a semana.

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