O ato de escrever
Quando penso escrever sobre tudo, por vezes encontro-me a escrever sobre o nada. A poesia pode muito bem ser capaz de se enquadrar numa latitude que nos deixa sem arremessos linguísticos.
A escrita é um ato criativo deambulante que nos acompanha em cada instância. É simplesmente uma invocação violenta de uma impressão que se exprime a partir das minhas maiores intimidades. Quando escrevo, deixo-me simplesmente mergulhar numa procura da forma como transmitir e expressar a minha serenidade.
Escrevo simplesmente porque me vejo enquadrado num quadrante onde a terra me oculta e o mundo se me desvela. Sinto, portanto, que escrever pode ser uma forma de construção, uma procura desse mesmo vestígio que me permita apresentar o quotidiano, esse oculto que me atravessa o meu próprio pensamento, de uma forma mais sensível nesta mesma transição, Nachdenken, ou seja, nesta meditação, suplico simplesmente pela promoção de um encontro entre aquilo que proferi e aquilo que repousa num contorno substancial da imaginação e do serviço profético.
A escrita é, antes de mais, uma procura pela sensibilidade, por aquilo que de mais sensível se realça em nós é deixar florescer aquilo que foi imolado no nosso coração. Nesta mesma ação, as perguntas não fazem as questões, elas são a questão que, tendencionalmente, estão no horizonte da nossa existência. No fundo, nós existimos na tendência da questão que nos direciona para um futuro, para uma esperança que alimenta a nossa tensão do devir. Mas, quando escrevo, escrevo-me a mim próprio, escrevo juntamente sob um prisma oculto, como uma rosa se floresce, e floresce sem um porquê.
Portanto, deixando o ato de escrever, apercebendo-me de que é um ato que revela a minha aptidão e inquietude sobre o cosmo que me rodeia, como uma ruína que, poeticamente, pode ser construída. Nesse mesmo ato, derramo a minha pretensão para um silêncio do quotidiano, que se expressa o meu delírio intencional, que demonstra o meu ser peregrino.