O “uivar” da solidão
Deixando a azáfama semanal e o ambiente citadino envolvente no dia a dia de um estudante universitário, vejo-me de regresso à terra do meu coração, a percorrer ansiosamente cada detalhe, cada caminho da minha aldeia.
Todo o ambiente circundante desperta em mim um misto de emoções que me incitam a meditar e a refletir acerca de assuntos que em muito prejudicam as nossas aldeias do interior nos tempos correntes. De facto, nota-se um despovoamento em todas as zonas mais periféricas do nosso país, o que leva a que a solidão e a tristeza habitem o coração dos poucos que tudo fazem para aqui permanecer. Se me permitem, gostaria de fazer uma comparação desta situação com o lobo.
No passado, os pastores da nossa terra, Vieira do Minho, eram frequentemente visitados por estes animais que assustavam e dizimavam os seus rebanhos.
No entanto, esta espécie tem uma característica inata: muitas vezes, o seu uivar não só remete para os rituais de acasalamento como também para a solidão que os assola. Quantas vezes nos sentimos sozinhos e desamparados, precisando de alguém para estar ao nosso lado, que nos presenteie com um simples “bom dia” ou “boa tarde”, gestos simples que tanto significado têm na vida dos nossos idosos que, fervorosamente, lutam para manter as nossas terras intactas e conservadas, não deixando que caiam no esquecimento.
É imperativo que não deixemos morrer o nosso passado para que possamos falar dele no futuro. O subjetivismo e indiferença que muitas vezes atribuímos às coisas é fatal para a conservação dos nossos bens. Não sejamos lobos solitários, não fiquemos apenas conhecidos pelo nosso “uivar” de solidão.