Paralisação a 100% nos transportes de matérias perigosas
A greve ao transporte de matérias perigosas começou à meia-noite desta segunda-feira, 15 de Abril, e não mostra sinais de abrandamento. O protesto regista uma adesão dos trabalhadores de 100%. Se o cenário se mantiver, os postos de abastecimento poderão acusar falta de combustíveis já esta terça-feira.
Em declarações ao PÚBLICO, Pedro Pardal Henriques, vice-presidente do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), que marcou o protesto, confirma que “desde a meia-noite [de 15 de Abril] não saiu nenhum camião”.
Os cerca de 800 trabalhadores deste sector dos transportes no país aderiram ao protesto. Muitos deles estacionaram o camião para se juntarem às concentrações marcadas para Aveiras, Barreiro, Sines e Matosinhos, junto à Petrogal, que estão a ter uma “adesão muito superior ao esperado”. O também consultor jurídico lamenta as “queixas e ameaças de despedimento” que sindicalistas e grevistas têm recebido, “minuto a minuto”, por parte das empresas, para que regressem ao trabalho.
Quanto aos serviços mínimos, Pedro Pardal Henriques também reitera que o abastecimento de combustíveis apenas se tem efectuado para os hospitais, tal como o SNMMP havia avançado, impugnando o despacho conjunto dos ministérios do Trabalho e do Ambiente, que incluía ainda o abastecimento de bases aéreas, bombeiros, portos, aeroportos e ainda parte dos postos de abastecimento no Grande Porto e na Grande Lisboa.
Enquanto a Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) ou o Governo não se mostrarem disponíveis para negociar, a paralisação continuará por tempo indeterminado. Mas o impacto poderá ser imediato: “Amanhã [terça-feira], muitos postos ficarão sem combustível”. O vice-presidente do sindicato indica ainda que os aeroportos “já estão a menos de metade da reserva” disponível.
Em relação aos possíveis efeitos nefastos da greve, Francisco Albuquerque, presidente da Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis (ANAREC), diz ao PÚBLICO ainda ser “prematuro avaliar o impacto no fornecimento de combustível dos postos de abastecimento”. Além disso, a entidade não regista “qualquer relato que dê conta de alguma falta de abastecimento”, mas afirma estar a vigiar a situação.
Motoristas de matérias perigosas iniciam greve por reconhecimento da carreira
Em comunicado enviado ao PÚBLICO, a ANA informa que “está a acompanhar de forma próxima o impacto da greve nos aeroportos da rede” em Portugal. A empresa refere que está a avaliar o cumprimento dos serviços mínimos, a monitorizar a reserva disponível e a avaliar eventuais medidas de contingência.
Antes de a greve ter sido marcada, já o SNMMP se havia reunido com a ANTRAM, APETRO – Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas e com ambos os ministérios, relativamente às reivindicações dos trabalhadores deste sector.
Além do reconhecimento da categoria profissional específica, Pedro Pardal Henriques fala de uma “indignação” pelo “número de horas a que as pessoas são expostas”, que podem chegar às 18 horas de trabalho diário. O sindicalista aponta ainda para a precariedade do trabalho e o baixo salário base de 630 euros. “[Há um] risco a que [os trabalhadores] são expostos diariamente, quer pela carga horária, quer pelo risco para a população. Afinal, eles transportam uma bomba”, acrescenta.
Entretanto, a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) já rejeitou os fundamentos da greve dos motoristas de matérias perigosas e exigiu o cumprimento da lei quanto às regras de execução da paralisação.
“Face à greve convocada pelo Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), a ANTRAM não pode deixar de denunciar o atropelo da legalidade que está a ser cometido por este sindicato, quer pelo facto de não ter promovido a organização dos serviços mínimos, quer pelo facto de não incentivar os trabalhadores em greve ao cumprimento desses serviços”, disse, em comunicado, a associação.
“Os piquetes de greve estão a ultrapassar os limites da legalidade ao impedir trabalhadores que não pretendem aderir à greve de exercer a sua actividade”, vincou, citado pela Lusa
Texto editado por Pedro Rios/Publico