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Portugal e Alemanha defrontam-se neste sábado para a fase de grupos do Euro’2020

Portugal defronta a Alemanha, neste domingo, pelas 17 horas, para a segunda jornada da fase de grupos do Euro’2020. Para avaliar este confronto, o Desporto ao Minuto partiu à conversa com Miguel Moreira, treinador adjunto do Bayer Leverkusen, que conhece bem a “mentalidade” germânica e os pontos fortes do conjunto ainda orientado por Joachim Low (Hansi Flick tomará conta dos destinos da seleção, após o Europeu).

 
Imagem: Notícias ao Minuto

“Acho que é um jogo sem favoritos. Portugal, nos últimos anos, conseguiu reduzir de forma drástica as diferenças para as outras grandes seleções, como Alemanha, Itália, Espanha ou França. Durante muito tempo, houve aquela sensação de que faltava sempre algo para nos equipararmos aos maiores ‘tubarões’ do Velho Continente, agora já não. Desde o Euro’2016, sob o comando de Fernando Santos e com jogadores de uma qualidade bastante acima da média, conseguimos subir a fasquia”, começou por dizer o técnico luso-alemão, que sublinhou que a “Alemanha está numa fase de remodelação e que vai fechar o ciclo do Joachim Low, mas continua a ter um plantel fortíssimo”.

 
 

Portugal, que já não vence a congénere alemã há 21 anos: “A história ainda pesa um pouco, e o fator psicológico também faz parte do jogo. Falamos muito do passado e, às vezes, até demais, mas também precisamos de ver que desde 2016 tornou-se mais difícil bater Portugal”.

Já do outro lado, está uma “Alemanha que, só pelo nome, já é candidata. Pela forma como se preparam para estes certames desportivos, e até a própria auto-estima dos alemães, que partem sempre com o lema de ganhar”.

 
 

Para muitos, a Alemanha de 2021 tem mais pontos fracos do que a seleção que se sagrou campeã do mundo em 2014, mas Miguel Moreira discorda desta opinião. “É difícil dizer que a Alemanha tem mais pontos fracos do que a 2014, até porque, nesse ano, os alemães criticaram as escolhas do Low e frisaram que o selecionador levava muitos jogadores em baixo de forma. E, na verdade, o que ficou para a história foi o título conquistado diante da Argentina e os 7-1 diante do Brasil, na meia-final”.

“Se olharmos para a convocatória atual, basta ver que estão quatro jogadores que foram titulares na final da Liga dos Campeões deste ano [Gundogan, Kai Havertz, Timo Werner e Rudiger], um dos quais marcou o golo decisivo [Kai Havertz], temos também um bloco de jogadores importantes do Bayern Munique, e que venceram a edição passada da Champions. Falamos de atletas que querem sempre ganhar e que nunca estão satisfeitos se não o fizerem, estejam a dois ou a 15 pontos do rival. Eles ficam furiosos quando não ganham e pedem sempre o máximo a todos os companheiros”, ressalvou o técnico luso-alemão, que elenca também as duas grandes figuras da Mannschaft.

 

“Diria que o Kimmich é uma das grandes figuras desta seleção, que não só joga a médio defensivo, como também, às vezes, a lateral direito. Ele representa a ambição desta Alemanha, e, no coração do meio-campo, é um jogador fulcral. É também muito evoluído a nível táctico e exímio nas bolas paradas. Também o Muller é outro dos líderes desta seleção. Podemos até dizer que estes dois jogadores são o prolongamento do treinador dentro da equipa”, asseverou o técnico adjunto do Leverkusen, que considera que a opinião pública alemã devia ter mais respeito por Portugal.

“Eles olham-nos com respeito, mas ainda não é aquele tipo de respeito que merecemos. Podia e devia ser mais. Lembro-me de que, quando Portugal ganhou o Europeu, os alemães, e até o próprio selecionador, questionaram a forma como a seleção nacional alcançou essa conquista. Não só pela maneira de nós jogarmos, como também pelo percurso que tivemos até à final, com adversários mais acessíveis. Na Alemanha, Portugal continua a ser reduzido a Cristiano Ronaldo. É uma figura global e que continua a concentrar todos os holofotes em cima dele. Quando o sorteio acabou, os títulos das manchetes derivavam todos para o mesmo: Alemanha defronta CR7. Neste país, o selecionador olha com muito mais respeito para Portugal do que a opinião pública. Aqui, o aceitável é a Alemanha qualificar-se para a próxima fase, à frente de Portugal”, frisou o técnico de 37 anos.

 

A continuidade na Alemanha, André Silva e Renato Sanches

Miguel Moreira nasceu na Alemanha, é casado com uma alemã, tem dupla nacionalidade e o percurso profissional, quase todo ele, foi realizado em solo germânico, na condição de técnico adjunto, primeiro no Dortmund (nos escalões de sub-17 e sub-19), para depois saltar para o Estugarda e regressar mais uma vez ao Signal Iduna Park.

 

Pelo meio, teve uma passagem pelo Genk, da Bélgica, para agora estar a terminar a experiência no Leverkusen e manter o futuro a curto prazo em sigilo. Porém, deixando antever que seguirá na Alemanha.

“Sinto-me muito bem neste papel de adjunto e é onde consigo ajudar a equipa técnica e os jogadores. O meu ponto forte são as línguas, já que consigo falar de forma fluente cinco [inglês, português, alemão, francês e espanhol], o que permite ajudar bastante na comunicação entre jogadores e treinador principal, até porque o trabalho com os tradutores não é fácil, uma vez que eles não sabem falar o ‘futebolês'”, referiu Miguel Moreira, descrevendo um pouco das diretrizes da formação em solo alemão.

“Aqui, temos muita atenção ao currículo escolar, até porque são poucos os que alcançam os escalões profissionais. Já a nível de treino, aqui na Alemanha tanto jogam com três centrais, como com uma linha de quatro defesas, por isso trabalha-se, desde as camadas jovens, em vários sistemas. É um pacote completo a nível táctico, muito diferente do que se passa na Bélgica, em que trabalham os miúdos para um sistema de 4-3-3. Na Alemanh,a aperfeiçoam a parte técnica, a visão de jogo, antecipação de movimentos, como também a parte mental”, começou por explicar o técnico luso-alemão, descrevendo posteriomente a maneira como os germânicos justificam o insucesso.

“Quando se perde um jogo, é muito fácil falar da falta de empenho, de luta ou de dedicação, porque, na Alemanha, trabalha-se para ser perfeito e não exigem menos do que isso. Neste país, quando se perde não é por uma questão tática, mas por uma questão de mentalidade, ou então porque os jogadores não deram tudo o que tinham”, frisou Miguel Moreira.

Nesta conversa, o técnico do Leverkusen avaliou também a passagem de alguns jogadores portugueses pela Bundesliga, nomeadamente Renato Sanches, que acabou por ter um desfecho cinzento.

“Cada caso é um caso, e não sei se é um problema geral. O Renato Sanches, na altura, chegou com 19 anos à Alemanha, e não é fácil chegar ao Bayern e adaptar-se a uma das melhores equipas do mundo. Quando um futebolista chega tão jovem a este país, tem de ultrapassar vários obstáculos, mas costumo dizer que quem se adapta à Bundesliga está apto depois a jogar em qualquer Liga do mundo. Falamos de um campeonato fortíssimo e muito competitivo. Não é normal o primeiro ir ao campo do último ganhar, é sempre um jogo difícil, até porque todas as equipas são muito evoluídas tecnicamente”, frisou o técnico que, em contraponto, põe em cima da mesa o caso de André Silva.

“A transferência para o Frankfurt apenas sucede porque as coisas correram mal no AC Milan e, felizmente, ele veio para cá e conseguiu fazer uma fantástica época. É um jogador muito bom com a cabeça, mas também com os pés, fortíssimo nos duelos aéreos e um matador na área. Sem dúvida que pode jogar em qualquer lugar do mundo”, complementou Miguel Moreira, que deixa um incentivo para o internacional português, que aparece na sombra de Cristiano Ronaldo no que diz respeito à titularidade no onze da seleção nacional.

“Todos os jogadores têm de estar preparados para jogar, até porque nos temos de lembrar que. há cinco anos. o nosso herói veio do banco. O Eder foi o herói improvável e o nome dele fica para a história pelo golo que marcou na final. André Silva também pode ser esse jogador: entrar e resolver um jogo. Não basta ter apenas 10 jogadores de campo bons, também é preciso ter banco. E Portugal tem isso. Não nos podemos esquecer de quem somos, mas temos todas as condições de revalidar o título. E espero ver Portugal a chegar à final de Wembley e ganhar”, rematou.

Notícias ao Minuto

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