Professor da UMinho apresenta exposição sobre Chernobyl
João Sarmento, professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, apresenta até 21 de maio, na Casa Museu de Monção, uma exposição fotográfica alusiva ao acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. São 76 fotografias das ruínas da vizinha Pripyat, cujos 48 mil habitantes tiveram então cerca de meia hora para deixar as suas casas.
A mostra designa-se “30+5+1”, numeração que evoca as fotos tiradas 30 anos após o maior desastre nuclear do mundo e que iriam ser divulgadas cinco anos depois, mas a pandemia de Covid-19 empurrou esse momento um ano, para 2022, coincidentemente quando a Rússia ocupou Chernobyl. A exposição em Monção, no Alto Minho, pode ser visitada de terça a sexta-feira, das 10h00-12h30 e 14h00-17h00, e ao sábado, das 14h00-19h00.
Aquela central nuclear a 90km a Norte de Kiev começou a ser construída em 1970 e, para albergar trabalhadores e famílias, fez-se a cidade-modelo de Pripyat a 3km. A 26 de abril de 1986, um teste de rotina na central originou a explosão do reator 4, devido a erros operacionais, de segurança e de projeto. Foi criada uma zona de exclusão de 2600km2, equivalente à área do Alto Minho, e os habitantes – mais de um terço crianças – foram obrigados a abandonar o local. A radiação invisível num raio de 30km obrigou ainda 330 mil pessoas a saírem para outros pontos da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia. Nestes países, seis milhões de pessoas passaram a viver em áreas oficialmente declaradas como contaminadas. Nos anos seguintes repetiram-se ações de limpeza e remoção de materiais e houve até exploradores urbanos a revolver e subtrair objetos radioativos.
A zona de exclusão pode ser visitada desde 2011, mas por períodos breves e organizados, havendo livros, peluches, fragmentos e outros objetos dispostos no local a pensar no olhar do visitante. Em 2016, dez mil turistas visitaram Chernobyl, incluindo João Sarmento, que teve quatro horas para fotografar. Em 2019, fruto da série documental “Chernobyl” da HBO, atingiu-se os 124 mil turistas na maior área contaminada no mundo, onde ninguém pode viver em permanência nos próximos milhares de anos. Essa zona tem sido reinventada, com a natureza a despontar, com a procura crescente do turismo em ambientes de desastre, com a instalação de centrais fotovoltaicas e com a hipótese de se acolher aí resíduos de outras centrais nucleares.
Mais de 400 centrais nucleares em atividade
Segundo a Agência Internacional de Energia Atómica, há 439 centrais nucleares a funcionar em 32 países e mais 55 em construção. Muitas das centrais superam os 30 anos (90% nos EUA, 83% na UE, 61% na Rússia), aproximando-se do seu fim de vida planeado. Porém, os discursos políticos têm recentrado a energia nuclear, ligados à transição energética e descarbonização e à autonomia de produção no contexto internacional. A Comissão Europeia declarou a energia nuclear elegível para financiamento como sendo verde e sustentável. França, República Checa e Bulgária querem construir mais centrais. Já Alemanha e Áustria querem terminar as que têm. E Espanha tem sete, uma delas em Almaraz, junto a Portugal e ao rio Tejo.
O geógrafo João Sarmento aponta três problemas ligados à energia nuclear: produz resíduos radioativos, que têm que ser armazenados durante centenas ou milhares de anos; as infraestruturas com materiais radioativos podem ser alvos em confrontos militares, como sucede hoje na Ucrânia; e a possibilidade de desastre nuclear existe, embora haja cientistas e políticos a alegar que os avanços tecnológicos e de segurança o tornem residual.