UMinho estuda relação entre escrita e sofrimento em estudantes universitários
A Universidade do Minho está a desafiar os estudantes do ensino superior em Portugal a refletirem através da escrita sobre problemas que lhes causam sofrimento psicológico. Chamado “Write’n’Let Go”, o programa exclui a intervenção direta de um psicólogo e sugere que os participantes escrevam sobre pensamentos e emoções ligados a uma dificuldade que tenham. As tarefas de escrita duram 20 minutos por semana e prolongam-se por um mês, incluindo ainda questionários breves. O projeto é inovador e decorre até julho de 2021 em www.writenletgo.pt.
O desaparecimento ou a doença de um familiar, o cumprimento dos ideiais de beleza, a pressão académica, a solidão, o bullying, o amor não correspondido e a falta de autoconfiança são algumas das dificuldades esperadas. “Poderemos detetar estados de depressão e ansiedade que de outro modo seria difícil apoiar Queremos testar a eficácia deste programa-piloto ao nível da saúde mental e a sua potencial contribuição para construirmos ferramentas de ajuda psicológica acessíveis, inclusivas e de baixo custo”, referem os coordenadores do “Write’n’Let Go”, Miguel Gonçalves e João Batista.
A equipa de trabalho inclui ainda Janine Marinai e Melissa Gouveia, alunas de mestrado da Unidade de Psicoterapia e Psicopatologia do Centro de Investigação em Psicologia da UMinho. Os cientistas realçam que a saúde mental “é uma componente fundamental” do bem-estar dos cidadãos, independentemente da saúde física.
Num inquérito recente da Angelini Farmacêutica, 51% dos estudantes universitários disseram ter colegas ou amigos a quem foi diagnosticada uma doença mental durante o ensino superior. Segundo o Conselho Nacional de Saúde, as perturbações mentais são a principal causa de incapacidade e retiram um terço dos anos de vida saudáveis devido a doenças crónicas não transmissíveis. Estima-se que os custos com a doença mental em Portugal rondem os 6.6 mil milhões de euros por ano, ou seja, 3.7% do PIB, sendo que a depressão afeta 10% dos portugueses e as perturbações psiquiátricas atingem 23% da população, colocando o país em segundo lugar na Europa.
O “Write’n’Let Go” baseia-se na chamada “escrita expressiva”, focada em eventos traumáticos, stressantes e emocionais, e nos sentimentos inspirados por essas ocorrências. Alguns trabalhos recentes têm explorado tópicos de escrita sobre experiências muito positivas ou até a junção das experiências positivas e negativas, a chamada “escrita combinada”. O seu impacto está ainda pouco investigado, sobretudo usando as novas tecnologias de comunicação, o que torna o programa da UMinho percursor. O “Write’n’Let Go” respeita a confidencialidade e foi aprovado pela Comissão de Ética para a Investigação em Ciências Sociais e Humanas.