Universidades do Minho e Nova de Lisboa com conversas online sobre retrato
Porque é que muitos retratos são de elites em pose séria? Para que se tira tantas selfies? O que tem o sorriso de Mona Lisa? E em que sentido/s uma foto é capaz de “roubar a alma” para alguns povos? Para responder a questões destas, o Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho e o Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa (UNL) estão a organizar até dezembroas conversas online “Portrait Talks”, com uma personalidade por mês a falar do retrato na literatura e nas artes.
O ciclo visa o público em geral e prossegue a 24 de março, às 17h00, na rede Zoom, com o presidente da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Fernando António Baptista Pereira, a falar sobre o vulto renascentista Francisco de Holanda, entre outros aspetos.
Nos próximos meses dará a voz ao diretor do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Universidade Clermont Auvergne (França), Daniel Rodrigues, bem como aos professores Joana Baião (UNL) e Carlos Reis (Universidade de Coimbra) e à diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Emília Ferreira. A iniciativa contou até aqui com intervenções do presidente da Associação Portuguesa de Historiadores de Arte, Pedro Flor, e a ex-diretora-geral do Livro e das Bibliotecas, Paula Morão.
“Pretendemos abordar ideias e práticas ligadas historicamente ao género do retrato e às suas múltiplas implicações filosóficas, sociais, culturais ou políticas”, explica a professora Eunice Ribeiro, do Instituto de Letras e Ciências Humanas da UMinho, que coordena o evento, a par de Bruno Marques, investigador da UNL. As conversas focam a representação pelo retrato desde os média tradicionais (desenho, pintura, escultura, fotografia) aos mais emergentes (audiovisual, digital, multimedial), evidenciando dilemas, técnicas e funções destes registos do “eu”.
Retrato em grande evolução nas redes sociais
Eunice Ribeiro estuda o tema há mais de uma década, a partir da literatura: “O retrato não morreu. ‘Saiu do museu’ e está em grande evolução nas redes sociais, com a democratização das selfies, que muitos usam por vezes como forma de autopromoção no Instagram, por exemplo”. Para a investigadora, “é notável” como o ser humano passou a representar-se no século XXI. “Contrariando a ideia tradicional, há já autorretratos sem formas concretas, a apelar ao invisível, ou à representação anónima em muros e edifícios das cidades”, nota.
Os suportes, formas e técnicas dos retratos mudaram muito, mas a pergunta inicial é intemporal: quem sou eu? “Os retratos, não só nossos, acompanham-nos sempre na carteira, no telemóvel ou ao pescoço, seja por questões de afeto ou de necessidade de superação do tempo e da morte”, vinca Eunice Ribeiro. E lembra que, nesta teia de identidades, o próprio retrato encomendado, para parecer o melhor possível, nem sempre mostra “a realidade”.
Se o rosto ocupou, durante séculos, o lugar central da representação retratística, as diferentes formas de arte contemporânea levam o género ao limite das metamorfoses que consente. A fotografia, o cinema e a TV aprenderam com os retratistas a enquadrar personagens na câmara. O mundo digital abre novas possibilidades à representação, ao permitir retratos em movimento. “De técnica de afirmação de uma identidade única, exemplar e solitária, o retrato afirma uma prática de natureza processual, social e coletiva, como as modernas selfies e os retratos anónimos que artistas como Vhils fixam em espaços urbanos, apontando outras vezes para a margem de enigma que nos habita enquanto seres humanos”, nota Eunice Ribeiro.