Acessórios de moda sustentáveis criados por alunos do Politécnico de Viana do Castelo chegam ao mercado italiano
Um conceito de design de acessórios de moda eco sustentável foi desenvolvido por 41 alunos do último ano do curso de licenciatura em Design do Produto da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC).
O projeto MonnaLusa chegou ao mercado italiano e espera-se agora que a exposição em Florença “abra portas” aos estudantes. “A empresa italiana está em negociações com a câmara de Florença para realizar a exposição das malas. Será uma oportunidade para as empresas perceberem que têm ali produtos para serem vendidos e isso trará futuros contactos para os nossos alunos”, adiantou a coordenadora do projeto académico e de investigação, Liliana Soares.
Palazzo Strozzi, Ponte Vecchio, Vespa da Piaggio, vestuário renascentista e a máquina voadora de Leonardo da Vinci foram apenas algumas das inspirações dos estudantes do curso de Design do Produto da ESTG-IPVC. Orientado pelos professores Liliana Soares e Ermanno Aparo, o projeto académico e de investigação envolveu também os professores Jorge Teixeira, Patrícia Vieira e Antonieta Morais. O protocolo criou parcerias com a Global Beauty Shop (Pontedera – Florença) do empresário toscano Michele Lupi, a Corticeira Amorim (Portugal) e indústrias e unidades fabris do setor da madeira do Norte de Portugal. O projeto conta ainda com o apoio institucional do Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design (CIAUD) da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, do qual o IPVC é membro.
“A investigação permanente desafia a criação de produtos ecológicos, sustentáveis, sistémicos e portadores de significado. À luz dos novos acontecimentos, esta ação visa adotar um design mais crítico e responsável. É neste sentido que se deve ler MonnaLusa como um projeto académico e de investigação veiculador de oportunidades na criação de produtos futuros. Um projeto aberto aos paradigmas estéticos de um novo Renascimento com variações temáticas que estabelecem pontos de contacto entre um Norte de Portugal criativo e uma Toscana empreendedora”, referiu a docente Liliana Soares, admitindo que “a introdução de processos produtivos entre a academia, a investigação e o mundo empresarial foi uma oportunidade para definir novos sistemas de produtos”. Para o mundo dos negócios, continuou a professora, “esta foi uma ocasião para construir parcerias e aumentar negócios”.
Com a vontade de “cruzar a academia, a investigação e o mundo empresarial”, os responsáveis pelo projeto desafiaram os alunos a encontrar soluções “amigas do ambiente” para a empresa parceira, que trabalha com produtos vegan na área da cosmética. “Como os nossos alunos ainda não tinham a licenciatura, não podíamos avançar com um projeto comercial, mas apenas com um projeto académico e de investigação”, justificou a coordenadora, sublinhando que os alunos foram desafiados a encontrar uma solução eco sustentável para a empresa. Os alunos do curso de Design do Produto tinham a possibilidade de apresentar acessórios para mulheres, acessórios para homens, acessórios para animais de estimação, conjuntos para viagens ou nécessaires feitos em cortiça e aparas de madeira. Como fonte de inspiração, os alunos podiam apostar em áreas diversas como o Renascimento nas Artes, a enogastronomia, a paisagem como protagonista ou viagens como geradoras de experiências. Como a empresa italiana trabalha com produtos vegan, o objetivo era produzir uma linha de produtos que respeitasse a filosofia da própria empresa, daí a escolha da cortiça, até porque também é uma matéria-prima “com uma identidade portuguesa muito forte”.
“Estamos a voltar muito às raízes e ao saber fazer”
“A primeira parte do ano letivo foi muito intensa e isso fez com que os alunos começassem, desde logo, a procurar alternativas de materiais através de contactos próprios”, destacou a docente da ESTG-IPVC, lembrando que “o ano letivo passado começou no regime presencial e, entretanto, regressou ao regime digital. “A pandemia mostrou-nos que temos mesmo que primar pela diferença e fazer com que os nossos alunos transformem um constrangimento como é a pandemia numa oportunidade”, constatou Liliana Soares, defendendo que o Politécnico de Viana do Castelo tem que se diferenciar e os alunos têm que saber materializar. “Estamos a voltar muito às raízes e ao saber fazer. As empresas querem pessoas que saibam fazer e o IPVC tem muito esta caraterística, é o que nos dá identidade”, evidenciou a docente, admitindo que foi “fundamental” garantir que os alunos fossem autónomos, caso se voltasse ao regime digital, como veio a acontecer. “Foi extremamente importante, porque os nossos alunos assim ganharam autonomia”, aplaudiu Liliana Soares, evidenciando aqui a “dinâmica” criada com as empresas.
Malas já seguiram para Florença e espera-se que integrem exposição
Neste momento, as 41 malas resultantes do projeto MonnaLusa já foram enviadas para Itália. “A empresa ficou muito satisfeita com os protótipos e, por isso, avançamos para a materialização das mesmas. Agora estamos à espera que os trabalhos sejam expostos em Florença”, revelou a docente, informando que a empresa está em negociações com a câmara de Florença para a realização da exposição. “Em Itália, uma exposição de obras de design funciona quase como um catálogo, é uma oportunidade para os nossos alunos”, assumiu.
Muitos dos alunos ingressam agora no mestrado de Design Integrado da ESTG-IPVC e muitos deles estão a apostar na vertente de acessórios de moda para criar os próprios negócios. “Estes alunos quando vão a entrevistas de emprego já levam um portfólio não só com desenhos, mas com protótipos. Essa é a prova que o aluno sabe fazer e isso é uma das garantias para a empregabilidade do nosso curso chegar aos 92%”, justificou Liliana Soares, evidenciando o “portfólio valioso” que os alunos já possuem.
Mariana Gonçalves foi uma das alunas que participou no projeto MonnaLusa. “Foi o projeto que mais gostei de participar”, começou por confidenciar a jovem estudante. “A nossa área tem como ferramenta mais importante o desenho, mas no nosso curso colocamos isso em prática e materializamos”, elogiou. Depois de um conjunto de experiências, Mariana Gonçalves e Inês Freitas inspiraram-se no engenho da máquina voadora de Leonardo da Vinci. “Consegui integrar na parte lateral da minha mala uma espécie de engenho em que pode reduzir ou aumentar o tamanho, tal como o engenho da máquina voadora de Leonardo da Vinci”, descreveu Mariana Gonçalves, que contou com as parcerias para a confeção do seu protótipo das Oficinas de Artesanato César, localizada em Ermesinde, que forneceu a madeira e protótipo de todas as peças em madeira e a empresa Parcela Madura, localizada em Felgueiras, que forneceu o tecido de cortiça. A aluna, que vai agora ingressar no mestrado de Design Integrado da ESTG -IPVC, espera que “o projeto não fique por aqui”, aguardando “ansiosa” por novidades sobre a exposição em Florença.
Também Hugo Silva adorou a experiência. O aluno inspirou-se na Vespa da Piaggio, já que é um dos símbolos icónicos da zona da Toscana. “Fiz uma mala e utilizei várias técnicas portuguesas para costurar e usei a cortiça, que também é algo muito português”, contou Hugo Silva, que vai agora ingressar no mestrado de Design Integrado da ESTG-IPVC. O facto deste trabalho já estar a ter impacto internacionalmente, Hugo Silva acredita que “é muito bom e prepara já para o futuro”.