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“No longo prazo estamos todos mortos”

Em resposta à crise inflacionista que enfrentamos desde o início de 2022, prevendo que esta se irá prolongar no tempo, o Banco Central Europeu, à semelhança de outros bancos centrais ao redor do mundo, já aumentou as taxas de juro num total de 125 pontos base.

 

Muito temos debatido sobre as consequências destes aumentos. Porém, raramente nos temos questionado acerca da imperatividade dos mesmos.

 
 

A principal consequência de um aumento nas taxas de juro é a diminuição da oferta de moeda disponível, que por sua vez faz diminuir a procura agregada de bens e serviços numa dada economia.

 Este palavreado económico apenas expressa em termos técnicos uma realidade bastante familiar ao cidadão comum: nós tememos aumentos nas taxas de juro não porque dominamos teoria macroeconómica e sabemos todas as implicações que esses aumentos têm, mas porque vemos as prestações da nossa casa a subir, a loja do lado a fechar as portas, e vivemos sob o pavor constante de ser despedidos; nós sabemos que quando o aumento das taxas de juro bate à porta, é a recessão económica que está do outro lado.

 
 

Mas, afinal, porque é a inflação um dos arqui-inimigos dos economistas e porque movem mundos e fundos para a combater? Esta é uma questão pertinente, uma vez que o aumento generalizado dos preços só é um problema quando diminui o poder de compra da população; ou seja, quando os salários que as pessoas recebem não acompanham este aumento de preços.

Isto leva-nos a pensar que induzir uma recessão na economia europeia, que vai provocar uma redução nos salários, agravando o real problema por detrás da inflação, secalhar não será a solução mais inteligente. E com certeza não é uma solução com a qual nos devamos resignar.

 

Mas prometem-nos que isto é algo momentâneo. Que a recessão é apenas uma visitinha de médico e que no longo-prazo voltará tudo ao que era antes.

Porém, como as pessoas não querem (a maioria, não pode) esperar pelo longo-prazo, resistindo com os seus salários precários a uma estagflação de curto-prazo que esmaga o seu poder de compra, obviamente vão agir.

 

Vão agir no sentido de emigrar, se tiverem a opção, de deixar de estudar para trabalhar, de modo a conseguir sobreviver. As micro e pequenas empresas vão, muito provavelmente, falir ou vender parte do seu capital para cortar custos. Tudo isto se traduz numa grande perda de capacidade produtiva para a economia, que fará com que a situação da mesma, pós-receção, nunca possa ser a mesma do que antes!

Assim, é dever nosso pressionar os decisores políticos e económicos a desenvolver políticas de combate a crises económicas que não dependam de tal forma do longo-prazo, da flexibilização de preços, da crença infundada de que os agentes económicos não tomam ações de curto-prazo, e pior; que todos podemos esperar pelo longo-prazo.

 

É no contexto de uma crise inflacionista que entendemos com toda a clareza que o dinheiro compra a estabilidade e a comodidade de poder esperar pelo longo-prazo. Em teoria, podemos esperar, os preços e as quantidades podem ser flexibilizados. Mas as necessidades físicas e emocionais básicas da maioria das pessoas que não podem pagar esse compasso de espera, para quem a inflação é no curto-prazo, implacável e cruel, não são flexíveis: são urgentes e inadiáveis.

Texto de: Sofia Pires

Artigo publicado em parceria com a Associação de Debates Académicos da Universidade do Minho

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