Investigador da UMinho lança livro “História do Riso”
Quando deixou o riso de ser “um pecado”? E Cristo nunca se riu? Afinal, rir é coisa de sábio, diria Nietzsche, ou é como um fármaco nesta sociedade acelerada e incerta? Abílio Almeida, investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho, lança a 25 de outubro o livro “História do Riso” (Guerra e Paz), sobre a origem e evolução deste fenómeno social, de Platão a Umberto Eco, e deixando várias questões. A obra parte da recente tese doutoral do autor em Ciências da Comunicação na UMinho.
“A democratização do riso no cinema, na televisão, nos media e na Internet transformou o riso numa arma, envolvendo diferentes papéis na sociedade e aspetos psicológicos e emocionais. Terá hoje o riso caído na banalização e será algo mecanizado e produto de determinados géneros mediáticos?”, questiona Abílio Almeida, barcelense de 31 anos.
O livro de 200 páginas é “uma viagem atrevida”, prefaciam os professores Helena Sousa e Manuel Pinto, que orientaram a sua investigação doutoral. O autor percorre em especial as emoções (medo, tristeza, raiva, alegria) que o riso provocou ao longo da História, sobretudo após o século I.
Para o filósofo grego Platão, qualquer expressar emocional positivo era um usufruto temporário das coisas mundanas, logo um atentado visual à pureza moral. Esta expressão pública de prazer voluntário era na Antiguidade clássica oriundo de um mundo inferior, doentio e terreno. “Será o ‘fato, gravata e cara de mau’ o espelho contemporâneo do ideal platónico?”, pergunta Abílio Almeida.
Também Agostinho de Hipona teorizou o desuso das emoções positivas a nível social, que entraria na doutrina católica por quase dois milénios. João Crisóstomo, outro “pai” da Igreja, foi dos maiores adversários do riso. “Alegava que, segundo as escrituras, Cristo jamais rira, mas ‘frequentemente aparecia triste’. Mas quem pode prová-lo?”, devolve o investigador do CECS.
Rir é o melhor remédio?
Seguiram-se séculos de perseguição ao riso, apoiada na ideia de um pecado social ou um ato que deveria ser reprimido por fazer mal à saúde. Os ideais platónicos foram desmontados no século XIX por, entre outros, Friedrich Nietzsche, que considerava o riso um ato “sábio”. O filósofo alemão redefiniu a felicidade: visual, quantitativa e centrada no prazer, sustentando‑se no “novo início” proposto pelo naturalista Charles Darwin. Também o escritor e filósofo Umberto Eco considerou o riso como “uma imagem de um pequeno e repetido prazer carnal”.
“Com um clima emocional e social favorável e um modelo-base capaz de associar o riso ao poder, ao sucesso e à autogratificação, a sociedade começou gradualmente a rir, sem ficar com um peso na consciência. De um pecado insalubre, terá o riso passado a ser um bálsamo para a saúde mental?”, desafia Abílio Almeida.
Afinal, o tema é sério.