“Sons do Bairro” promove a inclusão em Famalicão
Sejam jovens, adultos ou seniores, todos podem fazer parte dos “Sons do Bairro” e descobrir o artista que têm em si. O projeto, promovido pelo Município de Famalicão, está ativo há cerca de um ano e já reúne ativamente 20 jovens-adultos do concelho famalicense.
Pelos estúdios de música do “Sons do Bairro” – um deles recentemente instalado na urbanização municipal da Cal – já passaram crianças, mães, apaixonados pela música e jovens que encantam a cantar e que desconheciam essa proeza. Orientados por Franklin Monteiro, também conhecido por Francão, e por João Costa, os participantes encontram em “Sons do Bairro” uma oportunidade para interagir com outros artistas, partilhar conhecimentos e para produzir composições próprias.
Foi o caso de João, 25 anos, natural da freguesia de Ruivães, que soube do projeto a partir de uma vizinha. A peça que gravou faz-se ouvir nas colunas do estúdio. “Na música, quanto mais partilharmos uns com os outros, melhor, porque ninguém faz boa música sozinho”, afirma. Aqui, todos têm estilos muito diferentes – o que inspira e motiva João. “Ao misturarmo-nos, ganhamos sempre um bocadinho”.
Francão, de 45 anos, é músico. Ensinar os outros do poder da música não lhe é novidade. Já há 12 anos que trabalha junto das urbanizações municipais e que ajuda os demais a contactarem com diferentes estilos musicais. “Fui trabalhando a percursão na urbanização da Cal e desenvolvemos um grupo”, explicou. Com o avançar dos tempos, o grupo foi mudando: “os miúdos foram crescendo”, uns casaram ou mudaram-se e deixaram de participar, outros permaneceram, e o músico decidiu explorar a gravação e a produção de composições com os que ficaram.
Foi a partir deste trabalho junto das urbanizações que a Câmara Municipal decidiu lançar o projeto “Sons do Bairro”.
O projeto nasceu efetivamente dentro das urbanizações, nos bairros do município, mas “está aberto a todos”, explica o técnico João Costa. “Normalmente, as pessoas do bairro vão beber recursos à comunidade exterior. Desta vez é a comunidade que vem beber recursos às urbanizações”. E é assim que se atinge o objetivo principal da iniciativa: empoderar os bairros.
Foi “Sons do Bairro” que voltou a aproximar Tó da música. Outrora, o homem de 42 anos, residente na Cal, dava concertos e chegou mesmo a publicar um álbum. No entanto, acabou por se afastar dos palcos. Agora, depois de uma vida, está de novo a fazer o que lhe encanta: cantar.
Além de gravar as suas composições, Lucas, de 18 anos, está a iniciar a sua formação artística no projeto. Já escrevia, fazia rimas, mas só agora é que está a consolidar aprendizagens. “Aqui, há muitas pessoas, de culturas diferentes, com experiência e eu posso só ir recolhendo ideias que demorariam anos e anos a serem conseguidas por outros artistas”, admite. Também com “Sons do Bairro” Lucas desenvolve outras competências. “Ser músico envolve muita responsabilidade, muito foco. Ser músico implica termos de nos conhecer. E se eu desenvolver o meu caráter musical com o que vou aprendendo, conseguirei ser um artista de sucesso”.
“Muito do que ouvimos e apreciamos nasce nos bairros e estes lugares não estão a usufruir dos frutos que estes sons proporcionam por causa das discrepâncias sociais”, explica Francão.
Hoje, o projeto já reúne “mais gente de fora” do que da própria zona. “Estamos a desmitificar a ideia de que o bairro só tem aspetos negativos”, nota João Costa. Atualmente, são 20 as pessoas que querem criar e explorar os potenciais da música em Famalicão. Inicialmente, os participantes reuniam e trabalhavam apenas no Estúdio de Gravação profissional da Casa da Juventude. Agora, vão poder registar composições no estúdio musical que está a nascer na Urbanização da Cal.
O presidente da Câmara Municipal, Mário Passos, explica que o “Sons do Bairro” foi pensado para reduzir desigualdades, promover a integração e a inclusão, fortalecer laços comunitários e promover o respeito pela diversidade cultural. “É com projetos como este que conseguimos alcançar um mundo socialmente mais coeso, mais justo, inclusivo e integrado”, acrescenta.