Cidadãos identificam 80 espécies num bioblitz noturno em Braga
Lesmas, aranhas, borboletas e caracoletas constam dentre as quase 80 espécies identificadas por uma centena de pessoas que participou esta semana num bioblitz noturno, no ecoparque das Sete Fontes, em Braga. Esta atividade preparatória da Noite Europeia dos Investigadores foi organizada pela Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM), através do Departamento de Biologia e do Centro de Biologia Molecular e Ambiental, com a colaboração da Junta de Freguesia de S. Victor e da Fundação Bracara Augusta.
A iniciativa permitiu “conhecer o lado ecológico deste território”, mencionou a diretora executiva da Fundação, Fátima Pereira, elogiando a “parceria feliz” com a ECUM. Durante três horas e munidos de lanternas e telemóveis, os participantes fotografaram a fauna e flora dentro e ao redor do ecoparque, que possui um sistema antigo de abastecimento de água. Gabriel Gonçalves, de 10 anos, achou “divertido ver as fontes e fotografar os bichos”. Já Cátia Dantas elogiou a “preservação do património” e espera participar em mais atividades similares com famílias ou apenas para adultos.
As fotografias tiradas foram carregadas na aplicação iNaturalist para o projeto “Bioblitz NEI Braga 2024”, resultando em mais de 180 observações e quase 80 espécies identificadas. Para atrair borboletas noturnas, a organização usou “armadilhas luminosas”, com LEDs de luz actínica (a chamada “luz negra”) e caixas de ovos em redor desta. “Servem para as borboletas se esconderem e acalmarem. São fotografadas, identificadas e libertadas”, revelou Margarida Araújo, recém-licenciada em Biologia na UMinho. “As luzes são essenciais, porque as atraem e depois podemos observar padrões, época em que aparecem ao longo do ano ou variações na sua abundância”, esclareceu.
Identificar borboletas noturnas pelo mundo
Este tipo de “armadilhas não letais” é usado em vários projetos mundiais que fazem parte da European Butterfly Monitoring Scheme. Em Portugal, aliou-se há um ano a Rede de Estações de Borboletas Noturnas. “O número destas estações tem aumentado mundialmente; os ingleses têm grande tradição na área, mas também há na Croácia, Sérvia ou Países Baixos”, explicou o professor Pedro Gomes, do Departamento de Biologia. “Na minha varanda, em três anos, já identifiquei quase 300 espécies; em ambiente urbano é mais complicado, porque há muita luz”, revelou.
A visita às Sete Fontes foi conduzida pelo presidente da Junta de Freguesia, Ricardo Silva, considerando que a iniciativa resultou de uma “sinergia perfeita”. O autarca destacou que a maioria dos participantes veio “registar a biodiversidade” e conhecer aquele espaço ecomonumental que tem “um dinamismo especial à noite”. Já a “aproximação da ciência à comunidade” e a “preservação da biodiversidade local” foram os aspetos focados pelo presidente da ECUM, José Manuel González-Méijome.
A Noite Europeia dos Investigadores vai decorrer a 27 de setembro, em inúmeras localidades na Europa. Dedicado ao tema “SCICLO – Science for Global Challenges”, o evento pretende aproximar os investigadores do público, que pode descobrir de forma mais simples e lúdica a ciência e a inovação. Em Braga, as atividades presenciais decorrerão no Forum Braga, entre as 16h00 e as 24h00, sendo a entrada livre.