Quantcast
 
 

Comprar livros não é para todos

Todos os anos saem novas estatísticas sobre os reduzidos hábitos de leitura em Portugal. Segundo um inquérito encomendado pela Fundação Gulbenkian ao instituto de Ciências Sociais, em 2020, 61% da população não leu um único livro, valores muito aquém do resto da europa, tendo Espanha apresentado quase metade deste valor no mesmo critério (38%).

 
Maria Velho
Imagem Ilustrativa (DR)

São dados relativamente preocupantes dado que existe uma forte correlação entre a leitura de livros e os restantes consumos culturais. Algo também de não estranhar são as desigualdades nas práticas culturais refletirem as desigualdades existentes no rendimento, nível de educação e idade. Mas enquanto o nível de educação e idade são fatores difíceis de alterar, a desigualdade no acesso à cultura devido ao rendimento não tem de ser.

 
 


Entre abril e junho deste ano, o preço médio de um livro foi 13,46€, e observando as categorias de livros de não ficção e ficção os números sobem para uma média de 16,51€ e 15,36€, respetivamente. Sendo que 1 em cada 4 portugueses recebe o salário mínimo
nacional, num país com um custo de vida elevado (agora ainda mais inflacionado pela conjuntura económica atual), dificilmente artigos que não sejam de primeira necessidade sejam tidos em conta.


Embora outro fator também referido no estudo aponte para uma falta de estímulos à leitura gerados em contexto familiar, acredito que no final de contas o preço de um investimento em livros seja verdadeiramente o fator que pese mais na decisão.

 
 

A principal razão pela qual os livros em Portugal são tão caros é devido a ser um país pequeno com o mercado pequeno e as impressões editoriais de quantidades reduzidas, não conseguindo assim tirar benefícios de economias de escala da sua produção. Isto cria um
círculo vicioso de preços de livros elevados numa população que pouco lê e com reduzidas capacidades monetárias para despender em algo que se pode caraterizar até como um bem de luxo.


Para ultrapassar este problema, sem pôr em causa uma desregulação do mercado livreiro (atualmente proporcionada pela Lei do preço fixo), passaria por uma redução dos custos de produção de livros, podendo ser feito por 2 vias:

 
  • Aumentando os volumes de impressão; certamente a população portuguesa não vai
    aumentar da noite para o dia, nem muito menos o número de leitores, mas dadas as
    caraterísticas nacionais o governo tem uma incumbência de tornar livros mais acessíveis e tal
    poderia ser feito através de encomenda de livros às editoras de forma a expandir a impressão
    e, consequentemente, reduzir os custos. Sendo esses livros posteriormente incluídos na rede
    nacional de bibliotecas, favorecendo assim por duas vias o acesso aos mesmos.

  • Diminuir a qualidade de produção; uma realidade é também que em Portugal, ao contrário
    do que se vê nas edições anglo-saxónicas, não é usual impressões simples em paperback ou
    livros de bolso, que possibilitam preços menores. Isso só seria possível com uma mudança de
    perspetivas em relação à compra de livros. Passar a ver um livro como um instrumento de algo
    a retirar independentemente do seu formato e não apenas um artigo de decoração numa
    estante ou uma boa prenda de Natal para um familiar.

O que é certo é sem mudança continuaremos a ver as mesmas estatísticas todos os anos, o mesmo nível de literacia que influencia os comportamentos e posicionamentos dos portugueses no dia a dia.

 

Comentários

comentários

Você pode gostar...