Escuta o silêncio e interroga-te: “há quanto tempo não sou arrebatado por um filme?” (Dunkirk)
Esqueçamos os livros de História. Esqueçamos o motor de busca rápida para informações múltiplas e instântaneas. Esqueçamos os pormenores da Razão, das trincheiras, dos ataques, do poder. Escuta o silêncio e interroga-te: “há quanto tempo não sou arrebatado por um filme?”
O que mais me fascinou no filme Dunkirk, argumento e realização a cargo de Christopher Nolan, é a surpresa de um filme (gravado 76 anos depois dos eventos retratados, no local dos mesmos) ainda nos arrebatar, apesar de baseado em factos reais a que todos podemos facilmente aceder, seja de que lado da batalha o espetador se encontre. Apesar dos efeitos gráficos, digitais, visuais, bélicos e mais alguns a que sabemos estar a assistir, como conseguimos deixar que os nossos olhos nos reportem a algo que não vivemos cuja moldura mental não será possível neste nosso privilegiado canto pacífico e em liberdade? Como nos arrebatamos?
Talvez por que nos revemos na angústia de saber que a sobrevivência não passa senão por um conjunto de acasos. A angústia do acaso e a trivialidade do aleatório tornam-nos apenas humanos sujeitos ao acaso trivial da existência, como um número num relatório sem forma nem cor de alma. Julgo que se permite a reflexão.
O que nos salva? A persistência? A frieza? O conhecimento? A calma na hora da honra que desmaia? O companheirismo e fidelidade sem contrapartidas? A ficção permite isto: interrogarmo-nos. Questionar o “al rededor”.
Os críticos podem argumentar a perspetiva menos francesa do encurralamento a britânicos e franceses por parte das forças alemãs, podem argumentar a menor perspetiva da presença do inimigo alemão, mas talvez possam concordar comigo: sairam arrebatados da sala. Humanos como todos, com notas paralelas à reflexão.
Julgo esta uma interessante oportunidade para relançar um ponto de vista britânico sobre o sentimento de comunidade de uma pátria civil unida pelos seus soldados, num momento crítico para a Europa em pós votação para saída da União Europeia, pós “Brexit”, um momento que mostra um reino assim não tão unido, de repente emocionado pelo mesmo ecrã de uma mesma História.
Fica uma dica para uma ida ao cinema.