Máquina para limpar o plástico do mar está finalmente a funcionar
Terminou o teste do sistema que promete limpar a maior mancha de plástico no mar – são quase 80 mil toneladas de detritos de plástico que ocupam uma área entre a Califórnia e o Havai equivalente a três vezes a França.
No final de um ano de testes, o sistema que promete limpar o plástico à deriva no Oceano Pacífico está a funcionar, anunciou esta quarta-feira o seu inventor.
O sistema idealizado originalmente pelo adolescente holandês Boyan Slat, agora engenheiro e fundador da fundação The Ocean Cleanup, pretende limpar o que ficou conhecido como “The Great Pacific Garbage Patch” – a grande mancha de lixo do Pacífico.
Esta mancha, detetada pela primeira vez em 1977, contém mais de 1,8 mil milhões de fragmentos de plástico, segundo o último estudo. E é a primeira vez que se faz a tentativa de a limpar.
“Hoje, tenho muito orgulho de partilhar com vocês que estamos a recolher plásticos”, disse Boyan Slat esta quarta-feira 2 de outubro, numa conferência de imprensa em Roterdão.
A máquina foi capaz de capturar e reter detritos que variam em tamanho, desde enormes equipamentos de pesca abandonados, conhecidos como “redes fantasmas”, até pequenos microplásticos de até 1 milímetro.
MANCHA DE PLÁSTICO EQUIVALENTE A TRÊS FRANÇAS
Não se trata de uma ilha ou de uma massa única, mas sim de uma vasta área com grandes quantidades de plástico, com detritos que vão dos pequenos bocados a elementos maiores, como redes de pesca abandonadas, que representam 46% do total, segundo o estudo publicado a 22 de Março no boletim Scientific Reports, da revista científica Nature.
A quantidade de plástico encontrada nesta área está “a aumentar exponencialmente”, de acordo com o trabalho desenvolvido pela fundação Ocean Cleanup e por investigadores de instituições na Nova Zelândia, Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha e Dinamarca.
A quantidade da massa de plástico presente continua a acumular-se devido ao sentido das correntes marítimas e ao descuido dos humanos, tanto no mar, como em terra.
A maior parte daquele plástico tem provavelmente origem em países do Pacífico, mas também pode vir de qualquer ponto do mundo pois aquele material anda por todo o oceano e até já foi encontrado no Ártico.
PLÁSTICOS AMEAÇAM ANIMAIS E ENTRAM NA CADEIA ALIMENTAR
Plásticos, como cotonetes, palhinhas ou sacos de plástico descartáveis, vão parar aos oceanos e deterioram-se, dando origem a pequenas partículas que são ingeridas pelos animais e podem levar à sua morte.
Através dos peixes, os microplásticos chegam à cadeia alimentar e são ingeridos pelos humanos.
Os microplásticos também são ingrediente de muitos cosméticos e produtos de higiene pessoal, como exfoliantes para cabelo, corpo e rosto, pastas e cremes dentais, entrando na rede de esgotos, mas como são demasiado pequenos para serem completamente filtrados nos sistemas de tratamento vão para os rios e mares.
A poluição do mar pelos plásticos é um problema global. Em 1990, a produção de plástico era metade da atual e daqui a alguns anos poderá existir no oceano mais plástico do que peixe, se nada for feito para evitar o elevado consumo deste material, segundo organizações ambientalistas.
TUBOS GIGANTES CAPTURAM LIXO
O sistema Ocean Cleanup consiste numa série de tubos gigantes – ironicamente feitos de plástico – que vão formar uma longa barreira flutuante em forma de U com uma rede em forma de saia que fica abaixo da superfície da água. Move-se com a corrente e vai apanhando os plásticos que por ali passam. peixes e outros animais conseguem nadar e passar por baixo da rede.
O novo protótipo tem agora uma âncora-pára-quedas para diminuir a velocidade a que o sistem a se movimenta e foi-lhe aumentada a linha de cortiça na parte superior da rede para impedir que o plástico passe por cima.
Os especialistas acreditam conseguir retirar metade dos detritos – cerca de 40 mil toneladas – nos próximos cinco anos.