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Mitos sobre lentes de contacto desvendados

Sabia que as crianças podem usar lentes de contacto a partir dos 5, 6 anos – ou até mais cedo, se existir indicação específica – e que muitas delas têm autonomia no seu uso? Quem o diz é José González-Méijome, diretor do Laboratório de Investigação em Optometria Clínica e Experimental da Universidade do Minho (CEORLab). Os mitos sobre as lentes de contacto ainda confundem a opinião pública e dividem os próprios profissionais. A Área Disciplinar de Optometria e Ciências da Visão da Escola de Ciências da UMinho (ECUM) vai tirar algumas dessas dúvidas esta terça-feira, dia 4, na 15ª Jornada Técnico-Científica de Contactologia, que decorre das 9h15 às 18h00, no auditório A1 do campus de Gualtar, Braga.

 

“Em casos como a miopia infantil, as lentes de contacto são cada vez mais aconselhadas a crianças – e quanto mais cedo melhor, pois é quando a miopia mais cresce e assim reduz-se as dioptrias e o crescimento anómalo do olho; além disso, estão também indicadas nalguns tipos de estrabismo”, nota González-Méijome. O professor catedrático do Departamento/Centro de Física da ECUM admite que há profissionais de saúde a questionar a opção. Mas a evidência científica é clara: a miopia de crianças a usarem lentes de contacto com desenhos óticos especiais travou entre 43 e 59% em estudos internacionais recentes, nos quais também participou o CEORLab.

 
 

“Quanto mais alta é a graduação dos óculos, geralmente mais se indica a prescrição de lentes de contacto, até porque os óculos ficam mais pesados, menos estéticos, alteram o campo de visão e o paciente tem uma perceção diferente do mundo”, defende González-Méijome. Há até lentes de contacto usadas para corrigir a visão durante a noite enquanto se dorme, moldando a curvatura da córnea, “mas só mediante prescrição por um especialista devidamente capacitado, pois ao fecharmos os olhos o oxigénio reduz”. Já perante irregularidades na córnea, a solução pode passar pelo uso de lentes rígidas permeáveis a gases, que preenchem as falhas pela lágrima do olho com notável sucesso, tal como demonstram os resultados da investigação, incluindo a publicada nos últimos dois anos por cientistas do Centro de Física da UMinho.

O professor realça que há quem utiliza bem as lentes de contacto há mais de 30 anos, mas também quem não as tolere sequer um ano: “Depende de cada um – com as lentes de contacto modernas, não é verdade que haja um certo limite de anos para usarmos lentes”.

 
 

“A lente é como um papel húmido colado à parede, precisa da lágrima para ser confortável”

A sessão de dúvidas, marcada para as 15h30, quer elucidar os profissionais e a população sobre estes e outros mitos, à luz da evidência científica. “A lente de contacto não se perde atrás do olho nem fica presa nele para sempre. Nunca tive um caso desses e só o sabemos de notícias no mundo absolutamente excecionais, relacionadas com mau uso ou falta de acompanhamento por um profissional da visão, optometrista ou oftalmologista”, anui González-Méijome. E a lente de contacto pode saltar frequentemente do olho? “Não, só se abrir o olho dentro de água, fizer um movimento brusco ou tiver secura no olho, como perante muito vento”, enumera. E se a lente derreter, com uma baforada quente ao abrir o forno? “Não derrete nem se desintegra no olho, pois os polímeros usados no seu fabrico são muito estáveis; aliás, antigamente, a sua esterilização era feita com calor”.

 

A lente de contacto provoca dor de cabeça? “Essa dor deve ter outra origem, como a falha de prescrição ou uma prescrição desadequada”, continua. Já agora, podemos maquilhar os olhos? “Sim, de preferência após colocar a lente de contacto, até porque a visão melhora a seguir para realizar essa tarefa”, frisa. Quanto ao soro fisiológico, é aconselhado para enxaguar e hidratar as lentes, mas nunca para limpeza e desinfeção da lente. Aliás, José González-Meijome insiste que o uso indevido das lentes de contacto pode levar, no limite, à perda severa da visão. “Esse ‘mito’ é verdadeiro se não houver cuidados de higiene regulares e visitas frequentes ao profissional da visão, ignorando a possibilidade de se produzir infeções oculares, ou se se incorrer noutros comportamentos de risco, como não usar óculos de proteção com as lentes de contacto em ambientes aquáticos”.

A 15ª Jornada de Contactologia inclui ainda dez palestras de representantes da academia e de empresas nacionais e multinacionais, que vão por em destaque inovações nas áreas da compensação visual com estes dispositivos óticos, nomeadamente na área das lentes esclerais e de controlo da miopia, tecnologias de superfície e novos materiais. O site oficial é http://ceorlab.wixsite.com/ceorlab/formulrio. A entrada é livre.

 

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