Salvem os bidés
O grupo parlamentar da Iniciativa Liberal apresentou um conjunto de propostas que visam acabar com “multas desproporcionais” e “regras ilógicas”. Nestas medidas foi incluído um projeto-lei no qual defendem que deixe de ser obrigatório existir um bidé em todas as casas licenciadas em Portugal. Apesar de apreciar a tentativa da iniciativa liberal de trazer medidas inovadoras ao parlamento e assim fomentar o debate público, considero esta medida uma autêntica afronta ao país e uma clara prova da influência do lobby do papel higiénico no parlamento.
Como muito gostam de dizer os apoiantes deste partido, Portugal está cada vez mais na cauda da Europa economicamente. Assim sendo gostaria de questionar a Iniciativa Liberal o porquê de propor a eliminação de um instrumento que permite a Portugal estar na vanguarda da inovação na importantíssima área de limpar os nossos dejetos naturais. Sendo Portugal apenas um de doze países na Europa que reconhece a importância desta bacia oblonga, seria de esperar que um partido que prega a globalização e a liberdade do mercado conseguisse reconhecer que o uso de bidé é uma das poucas vantagens comparativas do nosso país em relação à Europa, e segundo a teoria de David Ricardo, que tente criar incentivos à produção e utilização destes.
O bidé é, sem dúvida, uma das invenções mais subvalorizadas da história da humanidade. Para além de ser mais eficaz e eficiente que o papel higiénico, permite aos seus utilizadores gastar menos e contribuir para um planeta mais verde. Em média, uma pessoa utiliza quase 100 rolos de papel higiénico por ano, equivalente a um gasto de cerca de 70 euros, só em papel higiénico. Isto significa que uma pessoa que passe a utilizar o bidé, em vez de perpetuar formas ultrapassas de limpeza, conseguiria poupar em 15 anos o valor equivalente a um IPhone 14!
Para além de poderem ter um novo alento financeiro graças à utilização desta dádiva de Deus, excluir o papel higiénico da vossa vida é também uma escolha consciente ambientalmente. Nos Estados Unidos, de forma a sustentar a produção de papel higiénico, são cortadas 15 milhões de árvores por ano, resultando em elevados níveis de desflorestação, sendo cada indivíduo responsável pelo corte de 384 árvores, apenas para o seu fornecimento vitalício de papel higiénico. A utilização do bidé também contribui para a poupança de água, são necessários, em média, 140 litros de água para produzir um (1!) rolo de papel higiénico, enquanto que com o bidé apenas utilizamos, em média 0,5 litros de água por ciclo de limpeza.
Em suma, o bidé é melhor para o corpo, para o ambiente e permite aos indivíduos poupar dinheiro. A questão que se põe é: porque é que ainda utilizamos um instrumento ultrapassado como o papel higiénico?
A verdade é que, tal como dizem os economistas comportamentais, o consumidor não é racional e deixam o seu julgamento enviesado e emoções impactar o seu processo de decisão, o que por sua vez leva a escolhas que não maximizam a sua utilidade. Para haver uma real
mudança, o proletariado terá de se unir e se livrar das amarras do lobby do papel higiénico. Tal como proclamaram Marx e Engels: A luta contra o papel higiénico começa com a nossa própria existência.
Artigo publicado em parceria com a Associação de Debates Académicos da Universidade do Minho