Universidade de Coimbra estuda o bem estar das pessoas
Há várias combinações de condições que permitem atingir um elevado bem-estar subjetivo, o que significa que diferentes países podem adotar políticas distintas para conseguir um elevado bem-estar das pessoas. Esta é uma das conclusões de um estudo, coordenado pela Universidade de Coimbra (UC), que teve como objetivo contribuir para a compreensão das diferenças de bem-estar subjetivo entre países, ao analisar dados de mais de 70 nações.
O bem-estar subjetivo percecionado por cada pessoa diz respeito “à componente subjetiva da qualidade de vida, que pode ser medida pela satisfação global com a vida, que é frequentemente designada por felicidade”, explica a coordenadora do estudo, docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) e investigadora do Centro de Investigação em Economia e Gestão (CeBER), Maria da Conceição Pereira.
Nesta investigação, foram analisadas condições como rendimento nacional, distribuição de rendimentos, qualidade das instituições e várias dimensões culturais (como a masculinidade, o individualismo ou a distância em relação ao poder). Foram analisados dados de 2019 (referentes a 75 países), de 2015 (de 84 países) e de 2005 a 2007 (referentes a 74 países, neste caso com recurso às médias dos 3 anos) de países de diferentes regiões do globo.
Com recurso a uma metodologia inovadora na área da economia da felicidade – denominada fuzzy set qualitative comparative analysis (fsQCA) –, a equipa de investigação procurou mostrar que há várias condições que atuam em sinergia para alcançar um elevado ou um baixo bem-estar subjetivo. Este método de análise permitiu conduzir “uma abordagem combinatória, que permite a investigação empírica de todas as combinações possíveis de condições que atuam em sinergia para alcançar um resultado específico, em vez de se focar nos efeitos individuais de cada condição, o que é típico das análises correlacionais”, destaca a investigadora da UC.
Para além de sublinhar que não há apenas um caminho para atingir um elevado bem-estar subjetivo, mas, sim, várias receitas, a investigação revela ainda que “nenhuma das condições consideradas na análise – rendimento nacional elevado, igualdade de rendimentos, instituições de elevada qualidade e as várias dimensões culturais – é necessária para um elevado bem-estar subjetivo”, destaca Maria da Conceição Pereira. No entanto, “uma elevada distância do poder e um baixo individualismo são condições necessárias para alcançar um baixo bem-estar subjetivo”, acrescenta. Estas condições observam-se em países como China e Rússia.
Adicionalmente, o estudo revela que “as combinações de condições que conduzem a um bem-estar subjetivo baixo não são necessariamente opostas às que resultam num bem-estar subjetivo elevado”, sublinha a docente da Universidade de Coimbra.
Sobre a importância deste estudo, Maria da Conceição Pereira explica que “os governos baseiam as suas decisões de política económica em indicadores tradicionais de desempenho económico como o produto interno bruto (PIB), admitindo-o como indicador de bem-estar de um país e da sua população”. No entanto, “há mais de quatro décadas que são reconhecidas as limitações deste indicador”, acrescenta.
Adicionalmente, a recente literatura sobre a economia da felicidade (área do saber que estuda a relação entre as questões económicas e a satisfação individual das pessoas) “vem demonstrar que o que realmente importa para o bem-estar das pessoas vai muito além do que é captado por um indicador económico como o PIB”, elucida a docente.
Esta literatura tem vindo a apresentar como características típicas de países com um elevado bem-estar subjetivo “elevado PIB per capita, elevado individualismo, baixa distância em relação ao poder, baixa masculinidade e baixa aversão à incerteza, o que sugere que existe uma receita única para promover o bem-estar de uma nação”, explica Maria da Conceição Pereira. No entanto, no caso concreto desta investigação, foi possível revelar que existem “múltiplos caminhos ou combinações que resultam igualmente no bem-estar subjetivo de uma nação, o que significa que há nações que diferem nos ingredientes que as tornam (in)felizes”, sublinha a investigadora.
Neste sentido, diferentes países podem adotar diferentes políticas para conseguirem um elevado bem-estar. Esta conclusão tem importantes implicações para os governos que incluem nas suas agendas outras formas de medição de indicadores de bem-estar subjetivo das suas populações, de forma a obter uma métrica mais holística para avaliação das políticas económicas.
Este estudo contou também com a participação do docente da FEUC e investigador do CeBER, Filipe Coelho, e da docente do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, Graça Miranda Silva.