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“ A pão e água ou morrer à fome ”

Por estes dias, temos assistido a um espetáculo deprimente que nos chega pelos órgãos de comunicação social. Um movimento constituído por cidadãos, empresários, do nosso país, depois de terem convocado vários eventos em diversos locais de Portugal, resolveram entrar em greve de fome e, acampar à porta da Assembleia da República.

 

Não obstante de quem possa ter razão, é meu entender que num momento excecional como o que estamos a viver, de pandemia mundial, com prejuízos socioeconómicos devastadores como não há memória, deva este movimento ser ouvido pelas entidades governamentais.

 
 
Diogo Dias Reis

O jogo do empurra que temos assistido nos últimos dias é dispensável. Atravessamos uma crise de saúde pública, com uma pandemia a nível mundial que todos os dias aumenta, que vitima muitos dos nossos entes queridos. Que desde Março, em Portugal, nos impede de viver com toda a legitimidade de liberdade que nos é devida, que nos impede de estar com a família, com os nossos amigos, de festejar aniversários, celebrar a nossa fé, marcar presença em eventos públicos, é pois por tudo isto, que entendo ser um gesto de humanidade, solidariedade e fraternidade que estes possam e devam ser chamados a audiência com as mais altas patentes da governação em Portugal.

A decisão de serem praticamente ignorados pelo Primeiro-ministro, António Costa, bem como pelo Ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, não é de todo inocente e visa, criar um sentimento de julgamento e de condenação na sociedade portuguesa. Criar uma espécie de cisão de “nós contra eles” e assim, ao olhar dos portugueses, enfraquecer este movimento e por conseguinte, os empresários que o compõem. O que seria de todo evitável num momento tão difícil como o que estamos a viver.

 
 

Se é verdade que no passado todos eles foram pró-ativos em encerrar os seus estabelecimentos, ainda antes das obrigatoriedades impostas pelo governo, não é menos verdade que foi isso, a par das medidas adotadas de forma quase generalizada pela população portuguesa, que evitou a sobrelotação do SNS (Serviço Nacional de Saúde) e por isso, quase que se falava no “milagre” português.

Importa relembrar que este movimento, embora tenha como um dos rostos mais mediáticos, o Chef Ljubomir Stanisic, é composto por mais elementos. Alguns deles empresários da noite, bares e discotecas, que estão impedidos por lei de abrir os seus estabelecimentos para a finalidade a que se destinam. Se no período após o Estado de Emergência, no vulgo desconfinamento, o sector da restauração, pôde abrir a lotação reduzida e até às 23 horas e mais tarde até às 01 horas, o sector da noite não podia fazê-lo. Ainda assim, é de salutar e de agradecer a forma ágil e célere como muitos destes estabelecimentos se readaptaram por forma a servir refeições quando a sua finalidade é servir de palco às mais loucas noites do nosso país.

 

Não posso terminar, sem deixar ainda um último apontamento, e este refere-se aos apoios que o Estado diz que deu ou que vai dar a estes e outros sectores. Sabemos que este governo é peremptório em fazer anúncios. Sabemos porque estamos desde Março a ouvir falar da “bazuca” da União Europeia, das ajudas aos pequenos e médios empresários e do famoso layoff. Convém também relembrar que uma parte do layoff é assegurada por estes empresários, já para não falar de que, para terem acesso aos apoios do Estado têm que assegurar na sua totalidade os postos de trabalho. Apoios estes, que na sua maioria ainda não chegaram ao bolso destes empresários.

É verdade que o Estado tem uma máquina burocrática muito pesada. Mas também é verdade que não há vontade de agilizar processos. Se fosse para favorecer algum amigo, sabemos bem que se aplicaria um ajuste-direto e estaria resolvido. Devemos todos ter na memória o famoso caso das Golas-antifumo.

 

Assim, temos uma crise de saúde pública, a maior crise económica e social e um estado que parece preferir que do movimento “a pão e água” passe ao movimento “morrer à fome”. O que não seria se esta greve de fome se passasse em 2012 com o Governo de Pedro Passos Coelho, de elitista a xenófobo, não faltaria que lhe chamassem.

Num momento de crispação da sociedade portuguesa, de cansaço generalizado, a iniciar-se a época de maior harmonia para nós, católicos, mas também para a sociedade civil, reunir com este movimento é antes de tudo um gesto de humanismo.

 

Diogo Dias Reis

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