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Banida de Jasvinder Sanghera

Jasvinder Sanghera é a fundadora do Karma Nirvana, uma instituição de caridade premiada pela nação que apoia homens e mulheres afetados por abusos baseados em honra e casamentos forçados. Porém, a história e a luta desta mulher, que é um símbolo de aspiração
e de superação, não começa aqui.

 


Nascida e criada em Derby, Jasvinder é uma sobrevivente de casamento forçado.
Educada através de uma cultura de castas e repressão feminina, Jasvinder viu a sua vida, logo desde muito nova, a ser traçada pelo seu casamento não desejado não existindo espaço para as suas vontades próprias bem como um percurso escolar.
Oriunda de uma família sikh que emigrara para Inglaterra nos anos 50, Jasvinda – a mais nova de sete irmãs – foi ensinada a considerar a sua casa um santuário da moral, onde as raparigas aprendiam a tornar-se mulheres obedientes, que tinham de desistir de tudo para servir os maridos, e a quem o seu corpo era oferecido sem muitas vezes existir consentimento.

 
 


Toda a educação alheia a esta era corrosiva, qualquer outra forma de viver era errada e pecaminosa. Mas não para o seu irmão. Este detinha toda a liberdade e podia-se expressar da forma que pretendia, em qualquer contexto. Havia uma clara preferência dos homens em detrimento das mulheres.


Como mulheres, a honra da família está investida nelas e na sua sexualidade. Após ver as suas seis irmãs mais velhas a terem destinos que não ambicionavam, a casarem-se com homens que não amavam e a serem maltratadas por aqueles a quem lhes juraram amor
eterno, Jasvinder sabia que não podia ser a sétima irmã a repetir tal fatalidade. Jasvinder não poderia tolerar as violações sexuais, o abuso psicológico e as agressões físicas. Jasvinder sabia que estas hostilidades eram um caminho sem fim, pois, a honra da família, era mais importante do que o bem-estar da mulher.

 
 


A brutalidade, a tristeza e o vazio das suas irmãs construiu em Jasvinder um combustível de raiva que tinha por base inúmeras perguntas. Porque é que nos temos de sujeitar a esta repressão a que eles chamam de amor? Porque é que são os meus pais quem
escolhem quem vou passar o resto da minha vida e não o meu coração? As suas perguntas repercutiam num eco vazio de respostas.
Quando Jasvinder tinha apenas catorze anos e ambicionava ir para a Universidade, os pais mostraram-lhe a fotografia de um homem mais velho com quem se deveria casar.


Jasvinder estaria prometida a este homem desde os seus oito anos. A pequena menina sabia que tal iria paralisar toda a sua vida: deixaria de ser Jasvinder – uma rapariga cheia de sonhos, com sede pela sabedoria e com a eterna vontade de ganhar asas para explorar o mundo – para ser a esposa de alguém. Ao contrário das suas irmãs, que não contestaram o seu casamento forçado, certamente por acreditarem que estavam condicionadas a acreditar que este era o seu destino, Jasvinder rejeitou ativamente este casamento.

 

Tal fez com que a menina fugisse de casa dos pais com o seu namorado, que nunca poderia ser aceite, pois, pertencia a uma casta inferior.
Este foi um ponto crucial e de rutura. A partir deste, intensifica-se e floresce uma dualidade de emoções para a feminista: revolução ou conforto? Ser feliz ou possuir conformidade? Emancipação ou aprovação dos pais?

Desta forma, tendo a vida sempre sido muito dura para si, a feminista Jasvinder Sanghera conta através de “Banida” – o seu diário aberto ao mundo – o seu trajeto de empoderamento bem como as suas emoções mais íntimas. Fala na primeira pessoa sobre a
sua falta de espaço, falta de voz e como o feminismo se encontra em patamares diferentes por todo o globo. Pensa em voz alta sobre o papel da mulher da sociedade. Grita ao mundo o papel da educação e, acima de tudo, da educação feminista.
Educação feminista que cumprira.

 


Aos 28 anos de idade, Jasvinder realizou a promessa que outrora tinha feito à menina Jasvinder de 14 anos, e foi para a universidade. Paralelamente, criará a instituição “Karma Nirvana”, que conta atualmente com mais de 30 anos, fundando uma linha de apoio, que
agora é uma linha de apoio nacional, financiada pelo governo, e que recebe mais de 900 chamadas por mês e que, no total, já receberam 190 000 chamadas. Também lutaram para mudar as leis da Inglaterra e, depois de uma campanha de 13 anos, o casamento forçado
tornou-se um crime.


A decisão da pequena Jasvinder de 14 anos, influenciou e teve um impacto tremendo tanto numa pequena como grande escala. Os seus filhos, agora, não têm de batalhar os estereótipos de género dentro do seu seio familiar e muitas mulheres estão livres do casamento forçado.
“Banida” de Jasvinder Sanghera é um manifesto feminista sem o ser, pois, a verdade é, e citando Virgina Wolf, “uma feminista é qualquer mulher que conta a verdade sobre a sua vida”.

 


Texto de: Jéssica Pereira

Artigo publicado em parceria com a Associação de Debates Académicos da Universidade do Minho

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