Deixem-se de Histerismos
Rui Baleiras, coordenador da Unidade Técnica de Apoio Orçamental, deu recentemente uma entrevista da qual foi possível retirar pérolas como: “Há uma enorme histeria no discurso público sobre inflação” e “É completamente insano pretender que a política orçamental seja a salvadora de todos”. Fiquei muito feliz ao ouvir isto porque deu-me um novo alento para a minha vida profissional futura, se alguém com tão pouco contacto com a realidade consegue ter tachos na função pública durante mais de 30 anos, talvez haja esperança para mim.
O Dr. Rui Baleiras, doutorado em Economia pela Universidade Nova de Lisboa, tendo inclusive uma pós-graduação em Harvard em Finanças Públicas, deve ser aplaudido pela sua coragem, já que apenas disse aquilo que a grande maioria dos economistas pensa, é absolutamente inútil tentar contrariar os efeitos do mercado através de políticas públicas. O mercado é dono e senhor de si mesmo e faz aquilo que quer e neste momento aquilo que quer é mandar milhares de famílias para situações de pobreza ou de enorme esforço financeiro e o estado não tem qualquer autoridade para o impedir.
Falando a sério, enquanto licenciado e futuro mestre em Economia, acho extremamente engraçado que a perspetiva dominante do pensamento económico perante crises continue a ser o “laissez-faire”. Centenas de milhares de pessoas passam anos a estudar economia e o melhor que nos conseguem dizer quando acontece um distúrbio no funcionamento dos mercados é “não façam nada que isso eventualmente vai ao sítio”. Se este é o melhor conselho que esta classe de doutorados em astrologia para gente rica consegue dar, porquê andar a estudar políticas económicas?
Felizmente, ainda existem algumas pessoas, a minoria, que tentam promover soluções para além de esperar que os plutocratas não-eleitos do Banco Central Europeu aumentem as taxas de juro. Algumas soluções apresentadas são por exemplo, a taxação de lucros extraordinários e a imposição de tetos máximos nos preços da energia. Quando confrontado com isto, o nosso amigo Rui Baleiras responde com: “Em Portugal, infelizmente, não sabemos fazer regulação económica de preços nestas condições e parece que a nível europeu também não.”
A ironia deliciosa de alguém que é conselheiro da política orçamental do Estado dizer que Portugal não sabe fazer regulações económicas não deve ser perdida, mas gostaria de destacar mais uma vez a profunda inutilidade dos economistas. A DECO já recebeu este ano mais de 20 mil pedidos de apoio de famílias que não conseguem pagar despesas mensais, algumas dessas com rendimentos de 1500 euros mensais, mais do que dois salários mínimos nacionais, números esses que se esperam que venham a aumentar a partir do mês de outubro com a atualização dos créditos. Contudo, mesmo sabendo isto, os economistas preferem não fazer nada e deixar as famílias sofrer, justificando dizendo que a “inflação e o sofrimento das famílias e empresas é inevitável”, mostrando mais uma vez a sua falta de compaixão e utilidade.
Apesar de a inflação e o sofrimento serem inevitáveis, o Dr. Rui Baleiras também nos diz que é preciso não haver histerismos, portanto lembrem-se amigos e amigas, mesmo que não tenham dinheiro para comer e sítio para viver é importante manter a ordem pública e deixar os senhores desta pseudo-ciência continuarem a trabalhar para que não entremos na fase da NASDAQ Retrógrada.
Rui Rodrigues
Artigo publicado em parceria com a Associação de Debates Académicos da Universidade do Minho